Há duas semanas, a internet foi inundada pelo termo “cringe”, com memes engraçadíssimos. Claro que se tornou a pergunta mais feita no Google: “O que é cringe?”. Essa palavrinha nova nada mais é que um sinônimo para as antigas palavras cafona, jeca, out. Foi criada ou usada pela geração Z para definir atitudes démodés dos millennials ou geração Y.
Para quem não viu, eles chamam de “cringe” pessoas que gostam de tomar café, vestir calça skinny e sapatilhas, que gostam de “Harry Potter” e do seriado “Friends”. Choquei. Claro que falar a palavra cafona é “cringe” ao cubo.
Nem preciso dizer a indignação dos millennials com tudo isso. Ficaram chocados demais. Não suportaram perceber que já não são tão jovens assim. Citando uma expressão desconhecida pela geração Z, a ficha dos millennials caiu. Afinal, eram eles que enchiam a boca para falar que os pertencentes à geração X já estavam ficando velhos, riam de expressões e ditados antigos citados por eles. Pelos pais então, nem se fala.
Para situar os leitores mais desavisados, vamos dar nome aos bois. Apesar de algumas divergências quanto ao nome das gerações, a divisão mais aceita é a seguinte: baby boomers (1946-1964), geração X (1965-1980), geração Y ou millennial (1981-1996) e geração Z (1997-2010).
A geração dos baby boomers se refere aos nascidos após a Segunda Guerra Mundial, em 1945. É uma geração que ajudou na reestruturação do mundo no pós-guerra e tem um comportamento específico, influenciado por esse contexto. São pessoas que hoje, provavelmente, estejam em cargos de chefia ou alta liderança em uma empresa, que deve ter sido fundada por um boomer. O termo geração X surgiu quando o fotógrafo Robert Capa usou a expressão em um dos seus ensaios fotográficos, em 1950. O ensaio mostrava jovens que cresceram depois da Segunda Guerra Mundial.
Já a geração Y ou millennials acabou ficando com dois nomes porque se refere às pessoas nascidas entre 1981 e 1996, que cresceram na virada do milênio. De todas as gerações, é a que mais se destaca por representar o período em que as divisões geracionais se popularizaram, e por serem tão diferentes das duas gerações anteriores – 39% dos millennials querem causar algum impacto no mundo. A geração Z contempla os nascidos entre 1997 e 2010. São um tsunami e foram chamados de “primeira tribo de nativos digitais”. Segundo dizem, 60% dos Z querem causar algum impacto no mundo.
A psicóloga Maria Rafart fez uma análise do novo termo “cringe”. “Os jovens de hoje gostam do luxo. São malcomportados, desprezam a autoridade. Não têm respeito pelos mais velhos, passam o tempo a falar em vez de trabalhar. Não se levantam quando um adulto chega. Contradizem os pais, apresentam-se em sociedade com enfeites estranhos. Apressam-se a ir para a mesa e comem os acepipes, cruzam as pernas e tiranizam os seus mestres. Essa citação, que poderia se referir a qualquer situação atual, é atribuída ao filósofo grego Sócrates, que viveu 400 anos antes de Cristo. Portanto, os conflitos geracionais já acontecem há muito tempo”, diz.
Ela diz que a adolescência é um período desafiador e de grandes descobertas. O jovem questiona o ambiente de onde veio, coloca muitas dúvidas em suas certezas anteriores, e tem energia de sobra para tentar mudar o que está ao seu redor. A expressão “no meu tempo” é uma espécie de lugar seguro para o nosso ego. É um lugar onde já fomos jovens, nosso corpo respondia bem a qualquer estímulo e a vida parecia ser bem melhor. É bastante lógico defendermos com unhas e dentes os tempos em que achamos que tudo estava “muito melhor”. É uma autoafirmação de que aquilo que vivemos ainda vale a pena.
A brincadeira do “cringe” tem a ver com confronto geracional. Confrontar não é necessariamente brigar, mas é defender o seu ponto de vista e achar que é melhor do que o outro. Isso ocorre desde sempre. Mesmo que os gladiadores desta luta “cringe” sejam os millennials e a geração Z, isso também dá o que pensar aos mais velhos.
Para uma nascida nos anos 1960, muitas imagens chegam à cabeça: a mãe enrolando o cabelo com bobbies, a família assistindo à chegada do homem à Lua com a primeira TV da casa ou a pintura a guache da bandeira que estragou a lataria do carro do vizinho para comemorar o Brasil campeão na Copa de 1970. A gente também teve nossos momentos “cringe”. Disse a especialista.
(Isabela Teixeira da Costa / Interina)