Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Pesquisa da USP faz alerta a pacientes com doença renal diabética

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Sou do grupo de pessoas que acreditam que doença não é vergonha e por isso falam no assunto. Acredito que falar é uma boa, pois o papo consegue aliviar o trauma, principalmente quando o caso é grave. Outro dia, perdi uma prima – distante –, que morreu em pouco mais de oito meses por causa de um câncer que começou no pâncreas, órgão que não dá segunda vez para ninguém.





Como já passei por várias doenças, amigos dizem que sou feita de outro barro. O caso é que vou levando e falando em minhas doenças, pois sei que a única coisa de que temos certeza certíssima na vida é de que vamos morrer.

Um dos problemas que enfrento há tempos e tempos é o diabetes tipo 2, tratado com raro sucesso por Walter Caixeta Braga. Há bem mais de 40 anos, descobri o problema, ele vai levando o tratamento com segurança e eu vou, sem perder a alegria de comer e beber bem por causa do açúcar proibido. Encontro pela vida conhecidos que acreditam ter a sentença de morte pairando sobre a cabeça por causa do diabetes. Acho que falta a eles a aceitação e adotar cuidados sem temor nem preconceitos. O resto vai numa boa.

Como o assunto interessa a muitos, gostaria de alertar quem vive procurando novidades sobre a doença que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) investigaram como determinadas alterações metabólicas em indivíduos com doença renal diabética podem favorecer o acúmulo de colesterol nas artérias e aumentar o risco de doenças cardiovasculares.





A pesquisa foi feita com 49 diabéticos tipo 2 e doença renal em diferentes estágios, mas com controle glicêmico parecido. Neles, a proteína albumina produzida pelo fígado é mais suscetível ao processo de carbamoilação, reação espontânea não enzimática que modifica a molécula.

“As albuminas dos indivíduos com doença renal diabética sofrem maior carbamoilação e em decorrência dessa alteração prejudicam a remoção de colesterol da célula pelas lipoproteínas de alta densidade (HDL), também chamadas de partículas que transportam o ‘bom’ colesterol. As HDL têm a função de retirar o excedente de colesterol depositado nos vasos sanguíneos por meio do transporte reverso. Quando esse transporte é prejudicado, o colesterol se acumula e favorece a aterosclerose”, escreve o grupo em artigo no Journal of Diabetes and Its Complications.

Segundo a professora Márcia Silva Queiroz, uma das orientadoras do trabalho, a literatura já aponta que indivíduos com diabetes e doença renal têm mais risco de hipertensão e alteração do colesterol, além de maior probabilidade de morte por problemas cardiovasculares. Porém, há uma série de lacunas na compreensão de como se dá essa ligação e como ocorre o acúmulo de placas de gordura nas artérias desses indivíduos.





“É um quebra-cabeça. Colocamos mais uma pecinha no mecanismo fisiopatogênico, buscando contribuir para o melhor entendimento do motivo de esses pacientes terem mais eventos cardiovasculares”, afirma Queiroz. O organismo de pessoas com doença renal retém substâncias tóxicas, como a ureia, pois o rim perde a capacidade de eliminá-las na urina. A ureia em excesso modifica várias proteínas por carbamoilação e isso aumenta de acordo com a gravidade da doença renal.

Processo semelhante ocorre quando o excesso de glicose nos indivíduos com diabetes modifica proteínas por glicação – processo em que as moléculas de açúcares e carboidratos unem-se a uma proteína, fazendo com que ela não consiga mais desempenhar seu papel no organismo.

Tanto a carbamoilação como a glicação favorecem o acúmulo da lipoproteína de baixa densidade (LDL) e diminuem a quantidade e a função da HDL, contribuindo para doenças cardiovasculares, que afetam muito as pessoas com diabetes.





A professora Marisa Passarelli, co-orientadora do estudo, destaca que outros trabalhos estão sendo realizados para analisar os efeitos do processo da glicação e como alterações no controle glicêmico afetam o desfecho cardiovascular no diabetes mellitus e na doença renal diabética.

“Nossos resultados apontam para alteração da função da HDL em remover colesterol celular, em decorrência da glicação e da carbamoilação da albumina. A albumina modificada induz estresse celular, prejudicando a saída de colesterol para as HDL e seu transporte ao fígado, que garante sua eliminação do corpo pela bile e pelas fezes. Isso não é aparente nos exames médicos de rotina, mas contribui para o risco de aterosclerose”, informa a especialista.

audima