Jornal Estado de Minas

Setembro é mês das flores e também de prevenção contra suicídio

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Agosto – mês do desgosto – lá se foi e setembro chegou trazendo flores antecipadas. Mesmo sendo o mês dedicado ao combate ao suicídio. Dois dos meus cinco pés de jabuticabas estão cobertos de flores, anunciando safra recorde da minha fruta preferida desde a infância, e o meu pé de ipê-branco abriu seu véu de noiva no jardim. E como a cada dia os avassaladores noticiários da epidemia trazem queda significativa, o que nos espera devem ser tempos melhores.





Mas setembro me faz lembrar de todas as pessoas que conheci que se foram por vontade própria, num momento de descrédito da vida. Terá valido a pena? O primeiro caso que soube, na infância ainda, sussurrado em baixo tom de voz pelos adultos, foi de uma prima. Abandonada pelo noivo, que a trocou por outra, resolveu sair da vida de modo bem difícil. Como não tinha acesso a nada que a matasse com pressa, revolveu morrer de fome. Fechou a boca até que o organismo não aguentasse mais. Para enganar a família, comia um ou outro biscoito de polvilho. O noivo se casou com outra e foi muito feliz pelo resto da vida.

Morte por depressão não é difícil. Outro suicídio, na família, foi de prima que se atirou do prédio onde morava e ninguém entendeu a razão. Mas como estava deprimida, tinha acompanhamento constante. Pediu um suco, uma água, quando foram pegar ela abriu a janela e se jogou do alto do prédio. Foi um suicídio tão significativo que não se fala nele, em tempo nenhum. Sei de todos os detalhes porque minha irmã que atendeu a desesperada também já se foi. Mas de doença, não de desespero.

É claro que as famílias dos suicidas evitam de todos os modos definir a causa da morte de quem se foi. Há casos insuspeitados, provocados por excessos de medicação, o que é mais comum, mas até por enforcamento, o que é o mais constrangedor. E sofrido. O suicídio é visto, muitas vezes, como um ato de covardia. Na realidade, trata-se de um sintoma perigoso de uma sociedade que evita falar e discutir abertamente sobre problemas como depressão, ansiedade e síndrome do pânico.





Estima-se que 90% das pessoas que se matam ou tentam se matar sofrem de algum transtorno mental. Por outro lado, a maioria das pessoas que têm problemas do tipo não tenta colocar fim à própria vida. Logo, os distúrbios mentais têm, sim, papel fundamental em grande parte dos casos, mas o que leva ao suicídio é uma combinação fatal com outras circunstâncias pessoais e ambientais adversas.

Mas, afinal, quem tem o maior risco de cometer suicídio? Quem são as pessoas que tentaram se matar, mas superam o desejo de morrer? No Brasil, o grupo mais sujeito ao ato é o de homens com idade entre 15 e 34 anos. O problema, no entanto, atinge mais os idosos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a mortalidade por suicídio é maior em homens com mais de 70 anos.

Para cada homem que tira a própria vida, há, pelo menos, três mulheres que tentaram e não conseguiram. Isso acontece por conta dos métodos mais diretos que são, geralmente, usados pelo sexo masculino, como armas de fogo. As mulheres optam por meios que proporcionem menos dor, como a ingestão de remédios. Quando falamos sobre suicídio, é comum ouvirmos que há quem se veja em situação de grande desespero ou solidão e, mesmo assim, não tenta tirar a própria vida. Qual é a diferença de quem realmente tenta se matar?

Na realidade, não há um perfil definido de “suicida”. Há a fragilidade emocional, que pode ser trabalhada com o apoio de familiares, amigos próximos e, principalmente, com o psicoterapeuta. Especialistas avaliam a tentativa ou o ato de se matar a partir de duas variáveis. A primeira diz respeito à intencionalidade, ou seja, à consciência e à voluntariedade no planejamento e preparo do ato. A segunda, por sua vez, é sobre a letalidade. Ou melhor, o grau de prejuízo físico que a pessoa se inflige. Por que as pessoas tentam se matar? Por ser um ato completamente particular, justificar as razões que levam uma pessoa a tirar a própria vida é quase impossível. Cada indivíduo tem a sua própria história, suas angústias, frustrações e dores.

Faz parte do pensamento humano cogitar a morte como uma saída para escapar do sofrimento, chamar a atenção ou, até mesmo, para ficar na história. Algumas pessoas, no entanto, resolvem continuar vivas e melhorar as condições de vida. A pergunta que resta é: por que algumas desistem do suicídio e outras não?. O comportamento suicida é composto por uma série de fatores biológicos, emocionais, socioculturais e até religiosos que, em junção, resultam em uma manifestação intensa contra si mesmo.