Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Fake news provocam problemas políticos e são versão nova de trotes antigos

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Não sei se ainda existe aquele telefone que dá o número de quem está nos chamando para que possamos responder oportunamente a chamada. Voltei ao tempo da pedra ao acabar com o uso do celular, do qual fui uma das pioneiras na cidade. Dou graças a Deus de ficar livre da perseguição, porque a função dele, que era ajudar, facilitar o contato entre as pessoas, transformou-se num meio de exibição. Pessoas acreditam que criar uma vida de sonho no celular é uma maneira de fugir aos problemas reais. Então, tudo se torna público, não existe mais nenhum tipo de reserva pessoal. Aparentemente, quem não expõe todos os lances diários de sua existência no aparelhinho não existe. Como não gosto desse tipo de vida pública, prefiro me restringir.



Relembre 10 fake news que prejudicam combate à COVID-19

Mas estou procurando esse tipo de telefone que denuncia a chamada desconhecida, porque estou vivendo um inferno de telefonemas sem nenhum sentido, várias vezes por dia. Das primeiras vezes, a voz era feminina. Agora, algumas ligações denunciam voz masculina. E é evidente que se trata de gravação, ninguém consegue ter aquela entonação constante, sem mudar nada. Todas as vezes, quem liga pergunta pelo meu marido, morto há mais de sete anos. Da primeira vez, pensei que podia ser um engano. Mas como informei que a pessoa não existia mais, passei a atentar para as outras chamadas. Quando você responde que é a pessoa que a voz feminina está procurando, ela informa que se trata de fulana de tal, gente de uma agência tal do Banco Bradesco e que precisa falar com o chamado. Pede também os primeiros números do CPF do focalizado.

Pior de tudo é que mesmo quando se responde que é bom parar o golpe, esse tipo de perseguição não para dia nenhum. As ligações, cerca de três ou quatro por dia, começam sempre lá pelas 8h e terminam lá pelas 20h. Sistematicamente. E não há quem nos defenda dessa penação, já pensei até em pedir providências à polícia, mesmo sabendo que ninguém vai tomar providência nenhuma, porque o único prejuízo é o incômodo da chamada. Afinal, é preciso atender, porque não se sabe se o telefonema é de gente conhecida ou não. Não sei, mas gostaria de saber, e entender melhor, quem é que perde o tempo nesse tipo de agressão ao próximo, sem o menor rendimento prático. Os telefonemas serão dados por uma empresa sem o quê fazer ou por uma pessoa doidona?

Outro lance que me impressiona é que esse tipo de chamada, que antigamente era conhecido como trote, hoje já não sei mais o que é, se tem alguma finalidade. Nos tempos onde só existia telefone fixo, os trotes eram uma maneira doentia de levantar suspeitas, divulgar mentiras, provocar situações falsas. Duraram um bom tempo, mas a evolução dos tempos e a chegada do celular acabaram com a praga. As chamadas fake news que estão provocando tantos problemas políticos nos últimos dias seriam uma versão nova dos trotes antigos. Só que em áreas mais perigosas. Nos tempos antigos, o que se usava muito, nos trotes da época, era avisar se mulher ou marido traíam o parceiro. Alguns desses avisos provocavam separações, e muitas vezes até crimes, quando os pares resolviam apurar os trotes e davam de cara com a realidade.

Esse tipo de telefonema sem nenhuma serventia que ando recebendo várias vezes por dia não sei para o que servem. Mas acredito que, mais dia menos dia, vou acabar descobrindo por quem são feitos...

audima