Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Eu enfrentei e venci um câncer de mama com a cara e a coragem

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Minha irmã costuma dizer que fui feita com um barro diferente, porque enfrento as situações de saúde sem morrer de medo – ou de preocupação. Como estamos no mês de outubro, dedicado ao câncer de mama, resolvi entrar no assunto, que acomete uma grande maioria de mulheres. Já enfrentei o problema e vale a pena aproveitar a data para contar minha história pessoal.




 
Com uma dor nova na mama, fui procurar José Salvador Silva, no Mater Dei. Ele já havia me operado de endometriose e nunca mais o abandonei. Ele examinou o local e me pediu para fazer uma mamografia, “apenas como esclarecimento do problema”. Fiz o exame e, com ele na mão, fui procurá-lo. Quando estava esperando que me recebesse, passou por mim e entrou em sua sala seu filho Henrique Salvador, que, eu sabia, era cirurgião. Então, matei logo a charada. Quando fui recebida pelos dois, o diagnóstico não chegou a ser surpresa. Eu tinha mesmo um pequeno câncer de mama, que seria operado por Henrique, que estava começando sua vencedora carreira. Como gosto de coisas rápidas, marcamos na mesma hora a sequência dos exames e o dia da cirurgia.
 
Fui para casa numa boa e relatei o problema para meu marido, que sempre teve horror de doença, médicos e hospitais, e minha irmã. Avisei que não queria sofrimento, nem comentários, que estava tudo numa boa, já definitivamente programado. Na véspera da cirurgia, José Salvador me avisou que eu não poderia fumar durante o tratamento. Pedi para fumar o último cigarro (trabalhando no jornal, era do grupo dos “chaminés”, sempre de cigarro na mão). Fumei o último cigarro – que foi último mesmo, acredito que, depois de tanto soro, desintoxiquei-me da nicotina.
 
Fiquei dias no hospital e, quando tive alta, voltei para casa com uma recomendação: fazer radioterapia, que na época praticamente só existia no Hospital São Francisco. O médico está lá até hoje, depois de ter passado uma boa temporada no Mater Dei. Fazia a aplicação da rádio todos os dias e, de lá, vinha trabalhar na redação, sem o menor problema, numa boa. Não fiquei com a área da aplicação queimada, porque usava quilos de creme hidratante e nem perdi significativamente os cabelos – que caem mais com a químio.




 
Mas a cirurgia me deixou com um problema, que era muito comum na ocasião: o braço do lado onde o câncer foi retirado ficou muito inchado. Como eu era magra, usava no máximo manequim 42, mas, como o braço não entrava, ou comprava roupas sem mangas ou de manequim 46. Fui levando o problema até que meu primo – mais do que primo, um irmão, que já se foi – Marcio de Castro Silva conheceu um médico italiano que fazia uma cirurgia que acabava logo com o problema.
 
Resultado da informação: marquei a cirurgia – que seria em Gênova, na Itália – para daí a dois meses. Tempo que passei acalmando família e amigos, só mulher muito doida é que sai do Brasil para se operar na Itália, e logo em Gênova, não era nem em Roma. Lá fui eu para ser operada – e o pós-operatório seria em um convento, não existia hospital na cidade para isso. Operada pelo médico Corradino Campisi, passei muito bem na cirurgia e posteriormente. Tanto que minha amiga de sempre, Angela Gutierrez, que foi para me acompanhar e me trazer de volta, não se arrependeu da temporada italiana. Como estava bem, nós íamos quase todo dia almoçar à beira mar, na costa amalfitana, era uma delícia só.
 
Voltando, contei aqui minha peripécia e fui procurada por inúmeras mulheres de braços imensos, em busca de informação e apoio. A operação liga os dois sistemas venosos circulatórios, o que faz o braço diminuir de tamanho. É claro que não custou barato, mas não me arrependo nem um instante de ter enfrentado o problema com a cara e a coragem. Tempos depois, o doutor Campisi esteve aqui em BH, deu um curso sobre sua técnica no Mater Dei, e terminou a sua temporada mineira com um grande jantar em minha casa, que contou com todas as presenças de médicos conhecidos.




Gostei de contar minha história nesta época dedicada ao problema, uma vez que o câncer de mama é uma doença que atinge as glândulas mamárias e pode afetar a saúde física e mental das mulheres de diversas formas. O tratamento com quimioterapia, muitas vezes, resulta em queda de cabelo, emagrecimento, fraqueza, mal-estar, preocupações, tristeza, e, quando necessária, a cirurgia de remoção da mama atinge um ponto que mexe com a feminilidade.
 
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa de novos casos de câncer de mama no Brasil, em 2021, é de mais de 66 mil. O mesmo instituto aponta que a doença é a primeira causa de morte por câncer em mulheres no país, sendo a mais frequente em quase todas as regiões brasileiras.

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