Uma das viagens mais divertidas que fiz na Europa foi com meus amigos Roberto e Rachel Cohen. Ele queria visitar, na França, todo pequeno produtor de queijo que pudesse, porque estava seriamente inclinado a abrir uma queijaria num sítio que tinha e onde criava cabras. Era o primeiro passo de um tour que seguiria depois para Israel, o que já é outra história. Passamos dias e dias percorrendo pequenas propriedades, aprendendo como os queijos eram feitos e, é claro, provando todos eles. Roberto, que era muito consistente no que queria, chegou aqui e começou a produzir os queijos como eram feitos no interior da França.
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Voltei várias vezes e apresentei o maravilhoso queijo aos meus amigos, que nunca tinham ouvido falar no produto. E quando não dava mais para ir à Serra, comprava o queijo em uma loja em Lisboa, perto da Rua do Comércio, e trazia camuflado na bagagem – era terminantemente proibido trazer queijo “manufaturado” na bagagem. É claro que nunca me pegaram, e inundei meus amigos da especialidade e, para completar, tenho ainda alguns poucos, que chegaram depois ao meu freezer.
Até que, no mês passado, outro milagre aconteceu. Meu colega e primo João Bosco Salles, me avisou que outro colega, não primo, mas querido amigo, Josemar Gimenez, que já foi diretor de Redação deste jornal, tinha me enviado um queijo da fazenda da família, que fica em Ritápolis, cidade praticamente vizinha a Tiradentes. O queijo demorou a chegar, mas, quando botei os olhos nele, nem acreditei no que via. Vinha dentro de uma linda caixa de ripas de madeira, primorosamente construída e com uma bonita informação sobre o que estava dentro: queijo Canto do Rio.
O cuidado não tinha nada a ver com o que acontece com a maioria dos queijos feitos por aqui. Estava maravilhosamente embrulhado em papel especial e trazia um pequeno folheto explicando tudo sobre o produto. A Queijaria Canto do Rio explicava que seu queijo era maturado em tábuas de cedro, num ambiente frio e úmido. Ensinava que, para conservá-lo, devia ser colocado sobre uma peça de madeira, num ambiente bastante ventilado. Na geladeira, devia ser guardado na parte mais baixa, envolto em papel-filme.
Do outro lado do folheto, as informações se completavam: “A Fazenda Canto do Rio, no coração das Vertentes de Minas, a Toscana brasileira, começou suas atividades em 1977. Desde então, passou por várias transformações, sempre inovando e, ao mesmo tempo, mantendo a mais pura tradição de Minas”. A história conta a criação de cavalos manga-larga marchador, a produção de vinhos feitos com uvas syrah, que conquistou a região.” Até que resolveu trocar todo o seu plantel de gado por vacas da raça jersey. E com o leite dessas vacas, que é usado cru, iniciou a produção do queijo. “Tudo feito dentro de um padrão sanitário impecável.”
E foi nessa altura dos acontecimentos, com o queijo nas mãos, que fiz com ele o mesmo que fiz com o Serra da Estrela: apresentei-o a conhecedores e apreciadores, que só não detonaram com ele de uma vez porque recolhi um pedacinho para meu uso próprio. Como aconteceu com o queijo português, que não circula por aqui, todos acreditaram que como o queijo é de Ritápolis, seria mais fácil atender à demanda. Não é, até onde posso saber. O Canto do Rio é todo vendido no Rio de Janeiro. Não sobra para nós...