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Estado de Minas ANNA MARINA

Cresce demanda pelo canabidiol, que já tem usuários famosos

Uso medicinal de derivado da maconha vem se tornando frequente, mas acesso ao produto, que tem que ser importado, é difícil no Brasil


11/10/2021 04:00 - atualizado 11/10/2021 12:05

 
planta de maconha
O tratamento da dor crônica é uma das indicações do remédio extraído da planta da maconha (foto: TV Alterosa/Reprodução)
 
A primeira vez que vi maconha ao vivo foi no quintal da minha casa. Uma irmã mais nova viu uns meninos guardando um pacote em um muro perto de nossa casa. Quando eles se mandaram, ela foi lá, recolheu o pacote e levou para casa. Minha mãe achou aquelas sementes curiosas e plantou-as no quintal, onde também eram criadas algumas galinhas. 

As sementes brotaram, as galinhas se fartavam com a verdura. E começaram a ficar doidonas. Um domingo qualquer cheguei com alguns amigos em casa – um deles, meu chefe, patrão e amigo Fred Chateaubriand – que entraram para tomar um café. Eles logo se espantaram, a sala era uma maconha só, vejam vocês. A planta era rara, desconhecida e seu uso começava a proliferar entre os jovens.

Anos se passaram e, há pouco, ouvi de uma amiga que estava dormindo muito bem porque tomava, à noite, algumas gotas de canabidiol, que recebia dos amigos que moraram nos EUA. Levei o maior susto, porque não sabia que existia qualquer produto medicinal feito com a cannabis sativa, a conhecida maconha. 

E como tudo muda, a planta entrou legalmente para a produção de alguns produtos, desde que com controle dos órgãos sanitários do país. Então, a maconha perdeu sua posição de droga para ajudar na cura de algumas doenças raras.

Com isso, o tratamento com canabidiol é popularizado pela tecnologia, que caiu nas graças das celebridades, é usado para tratar inúmeras patologias, inclusive dor crônica, mal que atinge 37% da população brasileira. Recentemente foi divulgado o caso de alguns de seus usuários, o chef de cozinha Henrique Fogaça, a cantora Beyoncé e o ex-pugilista Éder Jofre, algumas das celebridades que descobriram os benefícios do uso medicinal da maconha. 

No caso de Fogaça, a paciente é sua filha, que sofre de uma síndrome rara e há três anos vem usando o óleo medicinal chamado CBD, extraído da maconha. "E digo pra vocês que graças à planta ‘sagrada’ ela está cada dia melhor, com um semblante de paz, de alegria, sorrindo e sentindo os pequenos prazeres da vida", disse o chef em suas redes sociais, nos dias da divulgação do caso.

Já o ex-pugilista Éder Jofre sofre de encefalopatia traumática crônica e Beyoncé utiliza o medicamento para tratar dor e inflamação, algo mais comum do que se imagina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 30% da população do mundo sofre com dor crônica, caracterizada pela persistência do desconforto ao longo de dias ou até mesmo meses. No Brasil, a estimativa é de que 37% da população enfrenta esse problema.

Os relatos cada vez mais comuns de que os tratamentos com fitocanabinoides, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), ambos extraídos do cânhamo, têm sido eficazes na redução da dor e também de outros distúrbios têm levado ao aumento do interesse por esse tipo de medicamento. 

Além do preconceito, quem deseja iniciar um tratamento desse tipo se depara com outro problema: a dificuldade de encontrar profissionais que conheçam e prescrevam o canabidiol. Dos quase 500 mil médicos que atuam em território nacional, estima-se que apenas mil conhecem e indicam tratamento com canabinoides. Desses, 42% estão em São Paulo e no Rio de Janeiro. Quem reside em outros estados praticamente não tem acesso.

Tal desafio vem sendo sanado através do uso da telemedicina oferecido pela plataforma focada em tratamentos com base na cannabis medicinal Medicina.in. Desde que começou a funcionar, em dezembro de 2020, a Medicina.in já teve 779 agendamentos de consultas. 

"Em junho, tivemos 40 tratamentos iniciados. Temos dobrado mês a mês as consultas efetivas. A grande procura comprova que o acesso rápido e amplo a estes medicamentos já era esperado há anos pelos brasileiros", afirma Darwin Ribeiro, sócio da empresa. 

A plataforma conta com ferramentas de gestão para os médicos, além de canais que facilitam a comunicação com o paciente. "O tratamento é individualizado, pois para cada pessoa é prescrita uma dose diferente, não há bula. E essa dose vai sendo ajustada conforme a necessidade", explica o executivo.

A plataforma também tem uma área de apoio para a aquisição do medicamento. Nela, o paciente obtém todas as informações necessárias, passo a passo, para receber a autorização de importação. Segundo Albuquerque, isso foi necessário porque, apesar de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar o uso de canabidiol já há alguns anos, não é qualquer farmácia que conta com o produto na prateleira. 

"É bom deixar claro que a plataforma não vende, apenas ajuda no caminho, o que agiliza bastante o processo", ressalta. A expectativa dos empreendedores é de forte crescimento nos próximos anos. Até porque a demanda é alta. Segundo dados disponibilizados no site da Anvisa, até o final de 2020, 11 mil pacientes tinham licença para usar canabidiol no Brasil. A previsão da agência é chegar a 30 mil este ano e a 100 mil em 2022.

Por causa do interesse, já tramitam na esfera legislativa federal projetos sobre a regulamentação do plantio e da manipulação da cannabis medicinal, ainda sem previsão para serem debatidos em plenária. Um dos maiores entraves é a rejeição de parte dos parlamentares ao cultivo da planta, o que também abriria para a ingestão de cigarros, prática considerada moral e juridicamente ilegal. Com isso, existe a expectativa por parte de especialistas de que aconteça o crescimento do número de judicialização para solicitação do canabidiol com fins terapêuticos.

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