Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Silviano Santiago, meu amigo dos bons tempos de BH, virou imortal

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O presidente da Academia Mineira de Letras (AML), Rogério Faria Tavares, está enchendo sua lista de imortais com escritores que curto muito. Na semana atrasada, foi Humberto Werneck, cujas crônicas semanais no Estadão eu adorava ler e cujo livro “O desatino da rapaziada” é um retrato da Belo Horizonte em nosso tempo. Agora, chegou a vez de um amigo antigo, Silviano Santiago, com quem mantive longo contato nos tempos em que comecei no jornal e ele fazia parte da Geração Complemento.





Nossa distração era jogar conversa fora no restaurante Alpino, que ficava na Avenida Amazonas. Outro participante da mesa era meu grande amigo Ivan Angelo. Os dois se mandaram para São Paulo e quase nunca tenho notícias deles, a não ser por Lúcia Helena Monteiro, craque em acompanhar amigos.

Tenho o livro “Duas faces”, escrito pelos dois, o primeiro que coloquei numa estante em minha casa, numerado e tudo, mas não consegui encontrá-lo agora. Editado pela Itatiaia, os amigos fizeram uma vaquinha, na época, para que o livro fosse impresso.

Frequentávamos o Alpino praticamente todas as noites. O garçom da casa, Max, sabia que todos nós eramos quebrados, o dinheiro contado tostão por tostão para pagar a conta no fim da noite. Dividíamos o almoço camponês, prato que dava muito bem para dois, porque era farto.





O chope era contado. Passávamos horas e horas discutindo não só o futuro do mundo, mas também da cultura. Muitos da turma saíam do ensaio dos balés criados por Klaus Vianna – como “O caso do vestido”, inspirado no poema de Carlos Drummond de Andrade, o maior sucesso aqui e no Rio, onde foi apresentado no palco da Maison de France.

Fui ao Rio, no Ministério da Cultura, onde Drummond trabalhava, convidá-lo para a estreia do balé e também para pedir licença pela apropriação indébita de sua poesia. Ele foi superlegal comigo, contei como era montado o balé, ele gostou, agradeceu. Liberou o uso, mas disse que raramente participava de alguma coisa.

Quem esteve na noite de abertura, e também recebi, foi o futuro presidente Humberto Castelo Branco, que estava com a filha, Antonieta. Agradeceu muito o convite, disse que não poderia perder o balé porque Klaus era primo de sua mulher, já falecida. Bons tempos aqueles, que não voltam mais... O primeiro presidente da República da linha-dura tinha tempo de ir a espetáculo de dança.





Quanto a Silviano, foi-se embora para o Rio e se transformou em um intelectual e tanto. Especializou-se em literatura francesa no Centre d’Études Supérieures de Français, na capital fluminense, ganhou bolsa do governo francês, partiu para o doutorado na Sorbonne, Université de Paris. Ainda doutorando, iniciou a carreira de professor universitário nos Estados Unidos, onde atuou na Rutgers University, no estado de Nova Jersey. Foi “associate professor with tenure” na State University of New York at Buffalo.

Ao regressar ao Brasil, lecionou literatura brasileira e teoria literária na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio) até 1980. Transferiu-se para a Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, onde se aposentou como professor emérito. Ainda por cima, Silviano é doutor honoris causa pela Universidade do Chile e pela Universidade Tres de Febrero, de Buenos Aires.

Em 1959, em Belo Horizonte, publicou seus primeiros livros. Entre eles estão “Carlos Drummond de Andrade”, “Uma literatura nos trópicos”, “Glossário de Derrida”, “O cosmopolitismo do pobre”, “Ora (direis) puxar conversa!”, “Mil rosas roubadas” e “Menino sem passado”.

Silviano Santiago é o quinto ocupante da cadeira número 13, cujo patrono é Xavier da Veiga, sendo o fundador Carmo Gama. Ela foi ocupada também por Godofredo Rangel, Antônio Moraes, João Franzen de Lima e Paulo Tarso Flecha de Lima, a quem o meu amigo sucedeu.




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