Pesquisas mostram que o burnout não está restrito à área profissional, mas também pode estar associado ao estresse crônico relacionado ao papel materno ou paterno, sobretudo depois da COVID-19.
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Pais e mães com burnout costumam se preocupar exaustivamente em dar conta de tudo. “Ocupados com as crianças e a casa durante o dia, eles deixam tarefas profissionais e pessoais para a noite. A sequência de noites maldormidas os deixa mais estressados no dia seguinte. Assim, tornam-se menos aptos a dar conta das tarefas com a mesma qualidade. Elas se acumulam e vem a ansiedade e a sensação de incompetência”, explica Adriana.
Vale destacar: o burnout parental já era realidade antes da pandemia. Em 2018, pesquisadores da Bélgica constataram que a síndrome ocorre com qualquer um que tenha filhos. Basta que o prato dos problemas seja pesado o suficiente ou que o prato dos recursos seja leve demais.
“Não é de hoje que o prato de problemas das mães solteiras e de pais e mães de crianças atípicas está pesado demais. Nas famílias em que o casal trabalha, mas apenas a mulher assume a função parental, o cenário desfavorece a saúde mental da mãe”, informa a especialista.
A pesquisadora belga Isabelle Roskam estudou 900 pais e mães com burnout parental. Identificou quatro estágios progressivos. O primeiro é marcado pela exaustão do papel parental. Isso se manifesta tanto fisicamente, como o cansaço enorme de pais de crianças pequenas, quanto emocionalmente, em pais de adolescentes.
No segundo estágio, há distanciamento emocional entre pais e filhos. Exauridos, pais buscam o isolamento até como forma de preservar a própria energia. No terceiro, a parentalidade deixa de ser fonte de satisfação. O quarto estágio é o desolamento, quando pais e mães, esgotados, imaginam a parentalidade que gostariam de exercer. A diferença entre realidade e expectativa faz com que se sintam incapazes, sentindo culpa, vergonha e tristeza.
De acordo com especialistas, essa condição traz consequências mais graves do que o burnout profissional. Pais e mães não podem tirar licença remunerada ou trocar de trabalho. É comum que fantasiem planos de fuga e até suicídio.
“De certa forma, instala-se um ciclo destrutivo. Os pais se sentem sobrecarregados e incapazes. Mais sensíveis e reativos, acabam agindo de forma violenta, seja verbal ou fisicamente. Depois que o conflito passa, sentem culpa. Acometidos pelo sentimento persistente de inadequação e inferioridade, tornam-se suscetíveis a futuras explosões”, completa Adriana Drulla.
A autocompaixão ajuda a enfrentar o problema. E pode ser aprendida. A pesquisadora Kristin Neff a divide em três elementos: mindfulness, humanidade comum e autogentileza.
“Nos momentos difíceis, faça uma pausa e passe mentalmente por cada um deles. Primeiro investigue sua experiência com mindfulness, ou seja, com curiosidade e abertura, em vez de negar o sofrimento”, recomenda.
“Em segundo lugar, entenda que o sofrimento é inerente à condição humana. Se está nervoso, triste ou ansioso, isso não significa que há algo errado com você. Quando se compreende que tais dificuldades não são provas de incompetência, fica mais fácil acolher o terceiro elemento da autocompaixão: a autogentileza”, comenta a especiasista.
“Pense sobre como você apoiaria um amigo na mesma situação, e fale com você dessa mesma forma. Dê para si mesmo, ou peça, aquilo que você precisa”, recomenda Kristin Neff.