Quando ia a São Paulo, ficava no Maksoud Plaza. Lamentei seu fechamento no dia 7 de dezembro – não tanto por falta de hóspedes, mas por causa de briga familiar, como dizem à boca pequena. A última vez em que fui à cidade, antes da pandemia, hospedei-me lá, para espanto dos conhecidos, que acharam isso uma tolice desnecessária, pois a capital paulista tem hotéis mais novos e mais agradáveis financeiramente. Mas eu já estava acostumada com o ponto, o serviço, a cortesia dos funcionários e a fartura do café da manhã pedido no quarto.
Assisti lá ao princípio de algumas fofocas, como maridos belo-horizontinos começando romances... Fui até vítima de um problema. Cheguei ao hotel lotado, minha reserva não havia sido mantida. O aperto se resolveu com uma proposta curiosa: eu dormiria no quarto que eventualmente servia a funcionários. No dia seguinte, seria levada às instalações reservadas para mim. Muito cansada, nem quis pensar em mudar de hotel. Aceitei a troca e recebi o agradecimento da direção.
Gostava muito de jantar lá. Assim, evitava voltar tarde da noite de algum restaurante, provavelmente de táxi. Acredito que não verei a sonhada reabertura do hotel. Mas vale lembrar um pouco de sua história.
O fechamento do Maksoud pegou a todos de surpresa, apesar das dificuldades enfrentadas por esse ícone da hotelaria paulistana, com litígios societários, passivos trabalhistas e dívidas com fornecedores.
Com a pandemia, ele chegou a ficar por seis meses fechado, em 2020. Apesar da retomada parcial do turismo no ano passado, a taxa média de ocupação estava em torno de 20%, pouco para pagar o passivo e bancar a operação do dia a dia de um hotel cinco estrelas.
Alguns dizem que o Maksoud pode até voltar à ativa no futuro, talvez em outro endereço. Mas nada substituirá o lendário hotel que funcionou por 42 anos a uma quadra da Avenida Paulista, recebendo mais de 3 milhões de hóspedes. Isso porque não se tratava apenas de um hotel, mas de um projeto pensado em cada detalhe para encantar o público.
Seu projeto é assinado pelo arquiteto Paulo Lucio de Brito, funcionário da Hidroservice Engenharia, fundada em 1958 pelo patriarca Henry Maksoud. Brito desenhou e executou a obra da sede da Hidroservice. Maksoud gostou e encomendou o cinco estrelas ao então jovem arquiteto. Queria um espaço interno generoso. Brito foi aos Estados Unidos conferir dois hotéis com essa característica e usou algumas ideias no espaço, cujas obras começaram em 1976.
Ali nasceu a marca registrada do Maksoud: o átrio imponente como recepção, inédito no Brasil, com 70 metros de altura, e 24 andares de quartos em apenas duas das quatro faces do prédio. Iluminação natural, jardim suspenso, fonte de espelho d'água e elevadores panorâmicos, um assombro à época.
A decoração reunia obras de artistas consagrados – entre eles, Maria Bonomi, Aldemir Martins, Volpi, Tomie Ohtake e Emanoel Araújo. Outro destaque era o mobiliário dos anos 1950, relíquia que não estará mais disponível para o uso público.
Nos bons tempos, o hotel teve cinco restaurantes funcionando ao mesmo tempo, entre eles o francês La Cuisine du Soleil, inaugurado por Roger Vergé, lenda da nouvelle cuisine. O clube noturno PaNam e o Frank Bar (homenagem a Sinatra) eram lugares badalados.
Michael Jackson, Ray Charles, Kurt Cobain e as bandas Guns N’ Roses e Rolling Stones se hospedaram lá. O Teatro Maksoud recebeu shows antológicos, a começar por quatro apresentações de Frank Sinatra. Aquele palco recebeu Michel Legrand, Billie Eckstine, Julio Iglesias, Sammy Davis Jr., Alberta Hunter, Bobby Short, Buddy Guy, Sadao Watanabe e The Mamas & The Papas.
Entre os astros brasileiros, cantaram lá Tom Jobim, Clara Nunes, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Toquinho, Martinho da Vila, MPB-4, Leny Andrade e Tim Maia.