Fim de ano é tempo de fazer uma revisão do passado – é impossível fugir disso. Deixo de lado os anos mais felizes e emocionais de minha vida, que só a mim interessam, para entrar na área da vivência geral. Todos sabem que fiz da profissão um modo de viver, de participar, tenho mais de 60 anos de profissão e estou indo bem. Um de meus médicos, com quem divido meus problemas de saúde há mais de 35 anos, me ensina que não posso parar de trabalhar – trabalho é vida.
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Vai viajar de avião? Faça exercícios simples e evite a trombose profundaBurnout não se limita ao trabalho. Distúrbio é tortura para pais e mãesSíndrome do final de ano é a causa de ansiedade, depressão e estresseO primeiro dia do ano convida à reflexão sobre a necessidade de mudarUma ida ao shopping... Na volta, a sacola vaziaEntenda a diferença e a versatilidade de queijos amados por brasileirosDurante todo esse tempo, minha casa funcionou para a família, principalmente nos fins de semana, o que, acredito, ajudou na falta de tensão de todos. Afinal de contas, como sou agora a mais velha da família, preciso ser aproveitada enquanto estou aqui. E meus sobrinhos e amigos mais próximos sabem disso. Gosto quando sábados e domingos se transformem em uma festa, com mesa cheia e almoço para todos.
Quer melhor? Agora, com a chegada do carnaval, resolvi relembrar meus tempos de sambista; gostava muito de uma escola de samba. O tempo passou e a vontade acabou, mas levo comigo dois desfiles onde botei o pé no asfalto: o primeiro foi aqui, na Escola Cidade Jardim – acharam que eu estava completamente maluca. Onde já se viu frequentar a melhor sociedade mineira e sambar na Afonso Pena? Não dei a menor importância aos comentários, gostei demais da experiência.
Depois disso, passei a assistir aos desfiles no Rio, resguardada em camarotes, sambando sem ser incomodada. Sempre foi mais do que bom, até que um dia uma querida amiga chegou com uma proposta irrecusável: me convidou para desfilar na Mangueira, que tinha levado o primeiro lugar no ano anterior. A ala era a das baianas, não aquela bacanona, com aquelas fantasias incríveis, mas a ala onde a escola destinava a receber as amadoras. Como estava praticamente em cima do desfile, aproveitei a inscrição da uma prima dessa minha amiga, que não ia poder desfilar, porque estava doente. O negócio é assim: é preciso ser admitida antes, ter lugar guardado.
Na noite do desfile, passei o tempo todo no camarote. E, quando se aproximou a hora de a Mangueira desfilar, fui para o toalete, vesti a fantasia e consegui chegar à concentração. Foi um sufoco só, mas uma grande emoção. Naquele tempo, ainda tinha fôlego, acompanhei a música e o desenrolar de cada ala, algumas mangueirenses mais tarimbadas colocavam os novatos na linha. Foi uma canseira só, mas passei embaixo do camarote para me mostrar a quem estava lá e consegui chegar até o final do desfile. Quando chegamos naquela praça final, onde a escola se desmancha, é que a coisa apertou: eu não podia voltar pelo caminho do desfile, a pista da avenida, e não sabia como chegar ao camarote voltando pelo Centro do Rio.
Tive um pouco de medo, mas a fantasia ajudou. Achei um tanto de carnavalescos que me ensinaram o caminho. E, é claro, só consegui chegar ao camarote porque estava fantasiada, a entrada era supercontrolada. Adorei a experiência e, hoje em dia, ao recordar minha doideira, fico pensando se tinha direito de fazer isso com o cara-metade, que aceitava tudo com o maior amor. Tempos bons, que não voltam mais.
E para quem gosta e acredita, hoje é o dia de fazer a simpatia da romã: três sementes jogadas de costas e três guardadas na carteira para ter dinheiro o ano inteiro.