Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Celular, o inferno nosso de cada dia

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Voltei à consulta habitual com meu neurologista, que é um craque profissional e um craque cultural. Conversa pra lá e conversa pra cá, escutei dele o que nunca escutei de ninguém. Ele não gosta de celular porque o aparelho está acabando com uma das principais conquistas da humanidade: o contato físico, a conversa cara a cara – coisas que estão desaparecendo do mapa.





Não sei se já contei aqui, se contei, vale repetir. A informação mais dolorosa que já escutei, a respeito do celular, é a da mãe que mora com a filha num apartamento pequeno, mas como elas não se dão muito bem, as conversas domésticas – entre os dois quartos – é através do celular.

Já contei aqui também que fui uma das primeiras pessoas desta cidade a comprar celular quando o aparelho foi lançado. Custava R$ 260 e joguei o meu fora quando meu marido morreu, faz oito anos esta semana. Recentemente, quando passei dois meses sem telefone fixo por causa do mau atendimento da Net, o que mais escutava era conselho para deixar de chatice e comprar um celular.

Fora isso, escuto diariamente conhecidos contando como as ligações de telemarking têm aumentado no celular. A maioria cancelou o telefone fixo porque 90% das chamadas que atendiam eram de empresas querendo vender algum produto. Ou, pior, empresas de cobrança procurando por pessoas que nunca moraram no endereço. Não adianta nada explicar que aquela pessoa não é conhecida, não mora na casa e não trabalha no local, pedindo, educadamente, para retirarem o número do sistema deles.





A solução foi desligar o número fixo e ficar livre do incômodo, pois as chamadas não se restringem ao horário comercial, muito antes pelo contrário. São feitas à noite e nos fins de semana, principalmente depois do almoço, horário do merecido descanso de quem trabalha a semana inteira.

Há alguns anos, quando houve o boom de liberação de bancos para fazerem empréstimo consignado para aposentados, o INSS começou a vender ou simplesmente entregar de bandeja o cadastro dos aposentados para as instituições financeiras.

Começou, então, o novo calvário – que perdura até hoje – de ligações no celular, oferecendo o tal empréstimo. Como muita gente já pegou dinheiro emprestado, afinal os juros são bem mais baixos, agora tem outro tipo de ligação. Empresas ligam dizendo que são de determinado banco e podem reduzir o valor dos juros do empréstimo, abusivos. Quando marcam para a pessoa ir lá, não é em nenhuma agência, mas em empresa desconhecida. Até hoje não entendi como esse pessoal ganha dinheiro.





O perigo de golpe é enorme. Há alguns meses, amiga da coluna recebeu uma ligação dessas. Além de reduzir os juros, a informante disse que ela teria de volta cerca de R$ 5 mil. Esperta, essa amiga procurou ter um encontro para ver toda a documentação. Foi aí que a atendente disse que a oferta era só para aquele dia, ela teria de passar uns dados e receberia mensagem de SMS para confirmar.

Na mesma hora, nossa leitora falou com firmeza que não daria informação por telefone e nem confirmaria mensagem. A atendente insistiu, dizendo que perderia dinheiro, mas ela bateu o pé e disse que qualquer negociação financeira, só presencialmente. Na mesma hora a ligação foi interrompida.

Viram como eles enredam, seduzem e distraem para aplicar o golpe? Fique alerta.

Voltando às ligações de telemarketing, muitas delas – me dizem, pois não tenho celular – chamam incessantemente e quando são atendidas caem. Uma prima, que está com a mãe idosa e precisa do celular ligado a noite toda, programou o telefone, pois começou a receber tanta mensagem de WhatsApp no meio da madrugada – todas de propaganda – que tinha o sono interrompido o tempo todo.





Sinceramente, podem me chamar de pré-histórica, mas a cada vez que ouço um relato desse tipo, dou graças a Deus de ter coragem para jogar meu celular fora, sem me render aos insistentes pedidos de amigos e da família. Tecnologia é muito bom, ajuda bastante, mas estou vendo que as pessoas estão ficando reféns dela.

Outro dia, fiquei sabendo que meu amigo, o empresário Rodrigo Ferraz, passou 12 dias sem mexer no WhatsApp. Literalmente, desligou plugs para descansar. Alguns amigos disseram que deve ter sido mais difícil do que a caminhada que ele fez de BH a Congonhas, que levou 19 horas, para pagar uma promessa. E cumpriu numa boa.