A moda tem perdido estilistas que, mesmo não sendo do segmento mais conhecido, deram importante contribuição ao que é vendido no mundo. Depois de Cerruti, que se foi aos 90 anos, Manfred Thierry Mugler morreu no último domingo, aos 73. Visionário, sua imaginação como costureiro, perfumista e criador de imagens empoderou pessoas ao redor do mundo.
“Este é um momento de profunda emoção e grande tristeza para as equipes da Maison Mugler”, afirma Sandrine Groslier, presidente global da Mugler Fashion & Fragrance. “Nos quase 30 anos de colaboração, lembro-me dele como o gênio que revolucionou o mundo da moda, fragrâncias, fotografia e encenação. Um artista para quem o limite não era limite. Um gênio excepcionalmente talentoso, visionário e inclusivo, além de criador com energia infinita”, afirmou.
O francês Thierry Mugler era estilista, perfumista e diretor criativo – um artista completo. Na década de 1970, fundou a casa que carrega seu nome, ganhando destaque nas décadas seguintes pela abordagem vanguardista, arquitetônica, hiperfeminina e teatral da alta-costura.
Com materiais inesperados, desfiles concebidos com performances, avanços olfativos, ele quebrou todos os códigos e padrões. Inclusive sociais. Livre e vanguardista, nunca deixou de nos levar a mundos imaginários e de nos impulsionar ao extraordinário, no sentido literal do termo.
Próximo das celebridades, desenhou looks exclusivos para Grace Jones, David Bowie e Diana Ross, bem como roupas para o videoclipe “Too funky”, de George Michael. Apaixonado por perfumes, lançou o icônico Angel em 1992, uma das fragrâncias mais vendidas do século 20.
Nos últimos anos, ocorreu o ressurgimento significativo de criações de Mugler entre as celebridades, que usavam suas roupas em tapetes vermelhos e videoclipes. Em 2019, o Museu de Belas-Artes de Montreal lançou a exposição “Thierry Mugler: Couturissime” – evento que desembarcou em Paris no outono passado.
Com silhuetas estruturadas, looks hiperfemininos e visão futurista, Mugler conquistou a admiração do mundo. Apesar de ter se aposentado em 2002, fez seu grandioso retorno ao desenhar o inesquecível vestido molhado de Kim Kardashian para o Met Gala de 2019, onde a água foi representada por incontáveis gotas de cristal. O vestido, que rodou o mundo, foi o primeiro design assinado de Thierry Mugler após um hiato de 20 anos.
Outra peça marcante da cultura pop assinada por ele foi o look usado por Demi Moore no filme “Proposta indecente” (1993). O vestido preto, com recortes no busto, tornou-se imediatamente icônico.
Casey Cadwallader, diretor criativo da Mugler, compartilhou sua homenagem ao fundador da casa nas redes sociais: “Manfred, estou muito honrado em conhecê-lo e trabalhar em seu lindo mundo. Você mudou nossa percepção de beleza, confiança, representatividade e autoempoderamento. Seu legado é algo que carrego comigo em tudo o que faço. Obrigado.”
Nascido em Estrasburgo, o estilista trabalhou como designer freelancer em Paris até consolidar suas criações na marca Mugler, aberta em 1974. Nos anos 1980, já havia se estabelecido como nome importante na indústria da moda, conhecido pelo design cheio de extravagância.
Capturando o espírito da década, chamou a atenção com ombros largos, designs em que o volume se concentrava no topo do corpo, com o restante da peça moldado na silhueta. Coleções teatrais criadas para alta-costura traduziam a moda como espetáculo, no tom surrealista pelo qual ficaria conhecido.
Com a moda se movendo cada vez mais na direção corporativa, Mugler se aposentou de sua própria marca em 2002. Afastou-se da linha de frente, mas continuou a trabalhar criando peças e figurinos para Lady Gaga, Cardi B e Beyoncé, entre outras celebridades.