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SAÚDE

Câncer no cérebro ainda é desafio para médicos e pesquisadores

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Como ontem foi o Dia Internacional de Combate ao Câncer, vale a pena voltar ao assunto para lembrar que o câncer do cérebro, muitas vezes, é confundido com uma dor de cabeça terrível – poucos se lembram de procurar mais profundamente a razão. O excesso de álcool está ligado ao câncer no fígado, já o cigarro está relacionado ao câncer de pulmão. Quando são feitas essas associações, criam-se mecanismos para fornecer informações às pessoas, a fim de adequar seus hábitos.





No entanto, quando o assunto é câncer no cérebro, estamos navegando no vazio. “Os tumores cerebrais ainda são alvo de muitos estudos, principalmente com relação a suas causas. Por isso, não existem medidas para prevenção. Também não existem sinais de alerta que permitem dizer ao médico, hoje, que o paciente tem câncer cerebral. Ainda não temos uma forma de rastreamento que compense ser aplicada em nível populacional para evitar essa doença”, explica Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America.

“Apesar disso, o tumor gera sintomas, a depender de onde ele nasce. Um tumor de 0,5cm que nasce no lugar errado pode colocar o paciente na cadeira de rodas, mas um tumor de 10cm longe de áreas nobres pode nem sequer gerar sintomas se crescer bem lentamente. De qualquer forma, temos que levantar suspeitas de que algo errado está acontecendo em nosso cérebro quando há dores de cabeça diferentes das habituais, mais fortes e que respondem menos aos remédios, fraquezas de um só lado do corpo, crises epilépticas, redução da sensibilidade em alguma parte do corpo, boca torta ou rosto torto”, afirma Batistella.

A pessoa deve estar atenta para identificar esta dor de cabeça diferente. “A suspeita de tumores cerebrais não é levantada com qualquer dor de cabeça comum, apenas quando ela apresenta algum alarme, ou seja, é diferente. O surgimento de uma dor de cabeça nova (para quem nunca sente esse tipo de dor), a mudança do tipo de dor de cabeça, a piora da intensidade (quando ela fica mais forte com o passar do tempo e de difícil controle), aumento da frequência (quando aparece mais vezes), ou quando a dor é fixa (toda vez aparece no mesmo lugar) são sinais que podem ajudar no diagnóstico”, afirma o neurologista.





Epilepsia com quadros de desmaio, fadiga, formigamento no corpo, amnésia, confusão mental ou outras crises convulsivas, principalmente quando o paciente apresenta a crise pela primeira vez, ou não tenha recebido o diagnóstico de epilepsia antes, também pode ser motivo de preocupação.

Outro sintoma comum é a perda de funções neurológicas, com os chamados déficits focais. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o paciente pode apresentar perda de força ou do tato nos membros; perda de visão ou de audição; alterações da fala ou da capacidade intelectual (compreensão, raciocínio, escrita, cálculo, reconhecimento de pessoas); ou de comportamento (apatia, agitação ou agressividade).

“O surgimento de uma ou mais dessas alterações neurológicas deve ser sempre relatado ao médico para acelerar o diagnóstico”, recomenda Gabriel Batistella.

A percepção do paciente é importante, pois não há meios de rastreio efetivos para identificar tumores no início do seu crescimento. “Nosso cérebro não tem receptores para dor, ele é protegido pela calota craniana, muito diferente dos seios, que podem ser apalpados; dos pulmões, que podem ser auscultados; e do intestino, que pode ser visualizado facilmente. Pedir para que todos façam tomografia de crânio seria imprudente e aumentaria terrivelmente irradiações em pessoas saudáveis”, observa Batistella.





“Nem precisamos comentar quanto à ressonância magnética, exame caro e de difícil acesso para muitos pacientes. Quando encontrarmos maneiras efetivas de frear esses tumores, talvez possamos sugerir formas de gerar prevenção em nível populacional, salvando muitas vidas. Mas ainda é cedo”, explica. No caso do tratamento, o neuro-oncologista aponta três pilares principais: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. “Em casos extremamente bem selecionados, podemos tentar, em caráter de exceção, terapias-alvo ou imunoterapias, mas ainda não são estratégias provadas efetivas em tumores cerebrais, apesar de os estudos estarem extremamente avançados”, conclui.