Às vezes, tenho a impressão de que só fico em pé porque Deus quer. Meu equilíbrio natural é precário – o principal sintoma é a labirintite. Quando estou na base do cai não cai, tenho de ir correndo ao doutor Humberto Guimarães, que, com manobras precisas, coloca o labirinto no lugar.
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O fato é que tontura não é frescura, mas sintoma pouco compreendido até por alguns médicos e está por trás de mais de 40 doenças. Ela tem múltiplas interpretações, inclusive foi apelidada erroneamente de labirintite. Aí vira bola de neve: o paciente sai do consultório com diagnóstico errado, toma remédio errado e não melhora nunca, inclusive há piora na saúde em geral.
Afinal, o que está por trás da tontura? A consulta deve ser muito bem dirigida, com escuta, paciência e empatia com o paciente. É bom saber que o tratamento deve ocorrer tanto da parte do profissional quanto do paciente, que costuma não ser compreendido por familiares, amigos e colegas de trabalho.
Muitas pessoas acabam desenvolvendo preconceito com relação à tontura, pois ela ainda é pouco debatida, o que torna mais difícil a compreensão e o diagnóstico preciso. Essa avaliação vem do neurologista Saulo Nader, especialista em vertigens, zumbidos e desequilíbrios. Ele é o “Doutor Tontura”, como foi apelidado por pacientes e internautas.
Saulo Nader explica que o primeiro subtipo de tontura, o mais famoso, é a vertigem – alteração da percepção do movimento. A pessoa olha para cima e percebe que as coisas ou ela mesma está girando. Ou começa a perceber que as coisas estão balançando, como se ela estivesse no navio ou naquele balanço do parque. Isso pode durar alguns minutos, horas ou dias.
“Se é vertigem, é enorme a chance de o problema estar no labirinto, no nervo do labirinto ou nas áreas do cérebro de controle do equilíbrio, tendo como exemplos a VPPB, a doença de Ménière, a neurite vestibular, paroxismia, a migrânea vestibular e AVC cerebelar”, diz o neurologista.
O segundo tipo é a tontura de origem clínica sistêmica. A sensação é de peso na cabeça, com algum atordoamento, fraqueza em todo o corpo, sensação de corpo cansado e de mal-estar generalizado. As causas podem ser o corpo combatendo infecções graves, intoxicações (ressaca por álcool ou outra droga), anemia, carência de ferro ou vitamina B12, problemas hormonais como o hipotireoidismo, diabetes muito descompensada.
O terceiro tipo é a tontura de origem clínica cardiológica. Aqui, o problema está no sistema cardiovascular, no coração ou nos vasos do corpo. A sensação é de quase desmaio, com vista escurecendo e, às vezes, palidez e sudorese ocasionadas por queda de pressão maior que a normal por uma fração de tempo, levando à diminuição de oxigênio no cérebro.
O quarto tipo é o desequilíbrio. Nesse grupo entram as pessoas cuja tontura está mais focada nas pernas, e não na cabeça. O principal sintoma é o desequilíbrio, mais perceptível ao caminhar. Há a sensação de não sentir o chão muito bem, não ter firmeza nas pernas, pernas bobas ou desordenadas, insegurança ao andar, dificuldades de caminhar em alguns locais, como na areia da praia e calçadas. Pode indicar da doença de Parkinson a problemas ortopédicos.
O quinto tipo é chamado de sensações cefálicas inespecíficas. Desafiante, seu relato é vago por natureza. Por exemplo: cabeça oca, cabeça vazia, cabeça estranha, cabeça flutuando, pisar em ovos. É comum a pessoa não encontrar palavras para verbalizar o que sente. Os motivos podem ser vários: TPPP, vertigem fóbica ou mal de Débarquement, além de doenças psiquiátricas como depressão, ansiedade e pânico.
“Em alguns casos, problemas psicológicos podem causar tontura, mas muitas vezes vejo o contrário, ela desafia e fragiliza o indivíduo, levando a um momento de ansiedade ou até mesmo de depressão. Ou seja, a questão psiquiátrica é consequência, e não a causa. E há preconceito e desvalorização da queixa de tontura. Atualmente, consideramos a frequência e as características de sintomas associados para um possível diagnóstico, além do exame neurológico para ver se tudo está de fato funcionando”, finaliza Saulo Nader.