A miopia – alteração ocular que dificulta enxergar a distância – afeta 59 milhões de brasileiros, cerca de 25% da população, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A estimativa da OMS é de que, até 2050, aproximadamente 50% da população mundial seja afetada pela doença. Só para citar caso familiar, tenho criança de 11 anos na família cuja dificuldade visual já foi testada. O sudoeste asiático tem quase 90% da população míope. Levantamento realizado pela Fundação Abióptica (2019) apontou que 36 milhões de brasileiros usam lentes de contato ou óculos para o tratamento de doenças como hipermetropia, presbiopia, miopia ou astigmatismo.
O oftalmologista paulista Ricardo Ducci, especialista no tratamento dessas alterações, explica que existe uma cirurgia capaz de corrigir esses problemas de visão, suspendendo a necessidade de óculos. “A cirurgia refrativa promove a remodelação da córnea, entregando ao paciente a capacidade de enxergar perfeitamente, sem o uso de acessórios.” Dados da empresa Market Scope (2018) apontam que foram realizadas 158 mil cirurgias de correção visual a laser no Brasil naquele ano. “O procedimento pode ser feito com duas diferentes técnicas, de acordo com a necessidade do paciente. Dura aproximadamente 10 minutos – para os dois olhos – e tem resultados imediatos”, explica Ducci.
A indicação da cirurgia é feita após avaliação médica e não existe grau mínimo ou máximo para a sua indicação. “A possibilidade de correção da cirurgia a laser, que é altamente tecnológica, vai variar de acordo com as características de cada córnea. Algumas pessoas podem corrigir até 15 graus e outras nem a metade disso, por exemplo. É essencial para a cirurgia que o paciente esteja com o grau refrativo estável há pelo menos um ano e não apresente doenças que possam prejudicar a cicatrização da córnea”, afirma.
A analista de RH Luiza Bobato Cuman, de 26 anos, realizou a cirurgia em fevereiro deste ano para o tratamento da miopia. “Eu tinha um grau alto e usava óculos desde os 14 anos. Não me adaptava muito bem com lentes de contato e sempre sonhei em poder ficar sem o acessório. Sofria quando precisava ir a algum evento”, contou. Segundo a paciente, a cirurgia trouxe qualidade de vida. “Minha recuperação foi supertranquila. Eu já estava enxergando sem os óculos na manhã seguinte. O doutor Ducci passou uma prescrição de colírios que auxilia muito na recuperação. Então, em momento nenhum senti dor ou algum incômodo. Eu me emocionei diversas vezes quando consegui fazer atividades e ver coisas que eu não conseguia sem os óculos”, ressaltou Luiza.
A OMS já considera a miopia uma endemia do século 21. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia realizou levantamento que apontou que sete a cada 10 médicos entrevistados identificaram a progressão da miopia em crianças durante a pandemia do coronavírus no Brasil. Foram abordados 295 médicos oftalmologistas, entre abril e junho de 2021. Ducci alerta que a doença não é apenas hereditária, apesar de este ser um fator importante. “Estudos comprovam que a falta de exposição ao sol e a consequente exposição frequente a telas, por exemplo, podem causar ou agravar a miopia, o que explica a alta nos casos durante o período de isolamento social.”
Além disso, dados do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS apontam que 3,7 milhões de consultas oftalmológicas deixaram de ser realizadas em 2020, ou seja, 35% da população não fez o exame de rotina necessário, o que atrasa o diagnóstico e leva à progressão da doença. Mesmo assim, a informação de que a redução de miopia é feita com rapidez e eficiência no país é mais do que bem-vinda. Até há pouco tempo, quem quisesse enxergar corretamente, tinha que sair do país. De qualquer forma, tenho meus olhos, cujas cataratas já foram operadas por Fernando Trindade, um craque, e entregues a Santa Luzia.