Lado pouco discutido desta terrível pandemia é o que aconteceu com os serviços domésticos do dia a dia. Ficando em casa, não há quem não queira cuidar de tudo que não está bom, funcionando bem, prestando os serviços aos quais se destinam. Tudo se tornou mais difícil desde que as portas se fecharam e os pequenos prestadores de serviço tiveram de se virar. Todo dia que passa carrega uma péssima novidade, uma obrigação doméstica mais complicada.
Venho penando com esta nova rea- lidade. A primeira delas é o telefone fixo, o único que tenho. Troquei para a Claro e no começo foi legal, com todas as extensões funcionando. Na semana passada, só o aparelho principal funcionava, todos os outros três estavam mudos. Pedi para consertarem, o técnico veio no dia marcado, passou longo tempo procurando o erro e não achou nada. Avisou que mandaria outro, dois dias depois, porque acreditava que havia curto-circuito em uma das extensões, que ele não conseguia achar. Vamos ver se o problema será resolvido. Em casos assim, juro que tenho saudades da Telemig, que era mais modesta em seus serviços, mas no que se propunha – ligações telefônicas – não fazia feio.
Aliás, telefone pode ser o causador de amolações sem fim. A última perseguição vem de ligações de um serviço que se identifica como da parte do cemitério Parque da Colina. Cuida de tudo quando houver mortos, do caixão ao velório, da sepultura e não sei o quê mais. Nunca soube que existisse esse tipo de oferta telefônica, sei que há serviços que são convocados quando alguém morre. Oferecer esses serviços pelo telefone, a troco de nada, nunca ouvi falar.
Pequenos serviços domésticos também estão complicados. Sou de um tempo em que os amoladores de facas e tesouras paravam nas esquinas e apregoavam seus serviços. Tinham dia e hora certos, traziam todo o material de que precisavam para amolar tudo. Isso acabou – será que é por causa de a maioria dos clientes morar em apartamentos?
Os que montam suas oficinas em pequenas portas de bairro sumiram. Aqui ao lado do jornal existia um, ótimo, em pequena porta na entrada de prédio. Com todas as minhas facas e tesouras cegas, fui atrás dele e não existe mais. Recomendaram outro, também numa entrada de prédio, na Francisco Sá. Achei ótimo, levei tudo de uma vez, ele se prontificou a amolar em pouco tempo, cobrando R$ 8 por cada peça. Achei ótimo, fui buscar bem satisfeita. Minha cozinheira disse que joguei o dinheiro fora. Tudo está cortando como antes.
Conserto de eletrodomésticos é outro problemão, pois o que estraga nunca é novo e nunca é barato. No dia a dia, esses aparelhos são ótimos para poupar trabalho. Mas quando estragam, é melhor comprar outro.
Tenho um especialista perto de minha casa, e esta semana fui levar lá o ferro de passar de modelo industrial, daqueles em que o jatinho de água vem lá do fundo quando se passa a roupa. Gosto de passar roupa, o que não posso fazer mais por causa do meu braço direito operado. Resolvi passar uma peça de seda e o ferro só estava funcionando pela metade: não regula a temperatura e nem solta o vapor.
Fui atrás do eletricista de perto da minha casa – ele falou que não trabalha com aquele tipo de ferro e me deu o endereço de outro, na Savassi. Como já estava na rua, fui tentar o novo. Ele me recebeu sem a menor vontade de fazer o serviço, pediu tempo para entregar o orçamento – três dias – e estou esperando o resultado. Como o ferro é ótimo, foi presente de uma amiga, vou fazer o possível para consertá-lo. Mesmo que o eletricista da Savassi não dê conta do recado.