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Aprenda a identificar os sinais da depressão

Adiel Rios, mestre em psiquiatria pela Unifesp e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, lista oito aspectos da doença


28/02/2022 04:00 - atualizado 27/02/2022 20:36

Estamos entrando no terceiro ano desta pandemia, que parece estar acabando. Quanto menos pensarmos nela, melhor será. Tenho feito, antes de dormir, um retorno aos dias felizes de minha vida, para ter um pouco de sossego. Mas, pelo visto, estou, como todos os outros moradores deste mundo complicado, agora mais complicado ainda com a guerra da Rússia contra a Ucrânia. 

Conheço Kiev, já estive lá por dois dias e o que vi de melhor foi o museu, com figuras bem parecidas com as do Vale do Jequitinhonha e as estudantes, com grandes laços brancos na cabeça, saindo da escola para limpar o jardim em frente.

Não estou longe da conscientização dos brasileiros sobre o tema depressão, que parece estar aumentando. Segundo pesquisa do Datafolha sobre saúde mental, quatro em cada 10 brasileiros tiveram sintomas de ansiedade ou depressão durante a pandemia, e 53% dos entrevistados consideram muito importante oferecer suporte a quem esteja passando pela doença, enquanto 10% não souberam agir diante de um conhecido com depressão. 

Dos 2.055 entrevistados em 129 municípios das cinco macrorregiões do país, 44% afirmaram que tiveram problemas psicológicos. Entre eles, 28% apontaram que tiveram diagnóstico de depressão ou outra doença relacionada à saúde mental durante a pandemia de COVID-19, enquanto 46% afirmaram que algum familiar ou amigos próximos tiveram depressão nesse período. 

“De fato, identificar um quadro de depressão exige cautela, especialmente no momento atual. É importante destacar que a pandemia aumentou o número de pessoas com sintomas depressivos ou ansiosos, mas isso não é sinônimo de depressão ou transtorno de ansiedade generalizada. Esse diagnóstico depende de vários critérios, e é individualizado”, afirma Adiel Rios, mestre em psiquiatria pela Unifesp e pesquisador no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. 

Segundo ele, a depressão pode ser resultado de alterações nos neurotransmissores do cérebro (como a serotonina, a noradrenalina e a dopamina, responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar) e de fatores genéticos e epigenéticos. Estes últimos são fatores ambientais, como situações sociais de alta vulnerabilidade, traumas, abuso de substâncias lícitas e ilícitas, sedentarismo, alimentação, entre outros. “Isso mostra claramente que não somos apenas a expressão de um gene, mas a resposta a tudo que acontece à nossa volta.” 

O psiquiatra lista oito sinais que podem indicar uma possível depressão :
Ilustração
(foto: Lelis)

Desinteresse pelas atividades que davam prazer 
“É difícil ter motivação com uma rotina cheia de eventos estressantes como os atuais. No entanto, se a pessoa chega ao ponto de deixar de lado as atividades que sempre gostou de fazer, é um sinal perigoso.”

Sentimento contínuo de tristeza e apatia 
A tristeza é um fenômeno de causas externas. Diferentemente da tristeza, a depressão é um fenômeno interno e não precisa de um acontecimento para disparar este sintoma. A pessoa fica apática, não sente vontade de fazer nada e não entende o porquê. Dificuldade de concentração, cansaço sem explicação, alterações no sono e no apetite são alguns dos sintomas da depressão. 

Mudanças bruscas de humor 
Irritação constante por motivos banais, mudanças súbitas de humor e até reações agressivas merecem atenção. “O indivíduo com depressão se aborrece à toa e sempre encontra motivos para se irritar e reclamar.”

Alterações no apetite e no sono 
Dormir demais (ou quase nada) e comer muito (ou perder o apetite) são quadros sintomáticos comuns na pessoa com depressão. “As oscilações são muito grandes. O indivíduo pode passar várias noites em claro ou chegar a dormir 12 horas seguidas e, mesmo quando acorda, não tem a menor disposição para levantar. Na alimentação, a pessoa que come muito mais do que deve usa a comida como válvula de escape para aliviar a ansiedade. Já outras perdem completamente o apetite.”
 
Desleixo com higiene e vaidade 
Uma das características da depressão é a perda da vontade de cuidar de si mesmo. A pessoa costuma estar com a higiene corporal comprometida, podendo ficar dias sem tomar banho, com roupas sujas, mau cheiro, cabelos despenteados, unhas sujas e compridas. 

Dores pelo corpo 
A depressão pode ser uma doença inflamatória que ataca o corpo. “O indivíduo parece vivenciar uma ‘síndrome gripal’ com dores e tensão acumulada nos músculos, ombros e pescoço; cólica, diarreia ou azia; aperto no peito, dores de cabeça e fadiga.”

Dificuldade nas tarefas rotineiras 
A sensação de “cabeça vazia” e a dificuldade de se concentrar são típicas de uma pessoa com depressão. Muitas vezes, os pensamentos se tornam tão confusos que dificultam a tomada de decisões, mesmo aquelas mais simples e cotidianas. “Como consequência, tudo se torna um esforço imenso, e a pessoa acaba procrastinando suas tarefas e responsabilidades, o que a deixa ainda mais angustiada.” 

Autoestima baixa 
Sensação de incapacidade, impotência e fragilidade. De acordo com Adiel, é comum a pessoa se sentir menos importante, achar que ninguém se importa com ela e que tudo o que acontece de ruim é sua culpa. “A vida começa a ficar esvaziada, cansativa e até sem sentido. Quando chega a esse ponto, podem começar a vir os pensamentos suicidas.” Vale lembrar que a depressão é, sim, uma doença grave, que deve ser tratada antes que alcance estados em que a pessoa fique totalmente incapacitada.

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