Deus que me perdoe a heresia, mas, para mim, a guerra da Rússia teve, como efeito colateral, apagar a pandemia de coronavírus. Sem querer ser definitiva, a COVID-19 transformou-se, nos últimos dois anos, não só na desgraça da humanidade como no assunto permanente de jornais e TV. Sem falar que muitos se aproveitaram do fato de ser uma síndrome desconhecida para usar todos os meios de comunicação para se promover. O que se via e ouvia de tolice e repetição não dava nem para comentar.
Levei alguns trancos na intendência mensal, mas o que me bateu na cara com a maior força foi encontrar, naquele famoso ponto de venda no Mercado Central, ao lado do elevador, um abacaxi custando R$ 18. Espantada, acabei comprando dois por R$ 15 cada – que não honraram a tradição da banca: estavam muito ruins.
Há anos compro abacaxis ótimos em alguns pontos tradicionais: na Rua Grão Mogol com Campanha, quando vou para o salão de Laura Nunes, e ao lado do Epa, no Santo Agostinho. Sumiram os dois, como sumiram os caminhões que ficavam na Avenida Francisco Sá. Quando algum aparece, sorrateiramente, o dono informa que foram proibidos pela fiscalização de vender abacaxi na rua. Aumenta o problema o fato de a fruta vendida no sacolão ser mais cara e, simplesmente, pior.
Se levarmos nosso raciocínio adiante, vamos reparar que a maior parte das frutas e legumes vendidos nos sacolões da cidade costumam ser comprados em pequenos fornecedores da vizinhança. Quer dizer, produtores que não precisam usar os benditos adubos que são importados da Rússia.
Por aqui, esse tipo de uva não aparece em lugar nenhum, os consumidores aceitam o que oferecem. O que me leva ao passado, quando caminhões corriam os bairros vendendo caixas de uva nacional vindas do Sul, ótimas, por pouco mais que nada. Eram deliciosas e quando aparecem nos supermercados, são bastante diferentes.
Só que a bebida agradou tanto por aqui que acabou sendo produzida no Brasil mesmo, só os muito exigentes é que preferem a original. Mas, mesmo assim, falta a original não há de fazer. E como detesto caviar, não estou nem aí se as importações forem fechadas.