Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Entenda a importância do sono para a saúde física e psicológica

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Nas fábulas criadas em torno da família Teixeira da Costa, à qual eu pertenço, e aos luzienses, é que a melhor distração de todos era uma boa noite de sono. Dormir depois do almoço era uma bênção, um cochilo antes do jantar uma boa prévia para o sono noturno.



Sempre achei que dormia bem, debaixo de chuvas e trovoadas, e quanto mais a vida aumenta, mas difícil fica dormir bem.Uma das lembranças da minha infância era correr pelas casas da família em Santa Luzia e descobrir seus donos tirando uma pestana na cadeira de balanço. Quando montei minha casa, a peça foi uma das minhas primeiras preocupações – mas está no canto da sala, com pouca ocupação.

Apesar de ser uma ação desaconselhada pelos palpiteiros de vida e trabalho, dormir pode ser a solução que muitos procuram para seus problemas. Ter um sono de qualidade está ligado ao emagrecimento, controle de apetite, formação de músculos, melhor desenvolvimento do cérebro, maior libido, fortalecimento do sistema imunológico e até regeneração de lesões.

É certo que cada um tem o seu horário favorito de trabalhar, malhar e dormir, sendo isso o usual de cada indivíduo, seja ele matutino (dormir e acordar mais cedo), vespertino (dormir tarde e acordar tarde), ou até ser flexível.





O sono é uma característica biológica que todos têm, e que é sincronizado de acordo com as características ambientais e geográficas, sendo a maior delas a emissão de luz. Por isso, em viagens para lugares com características ambientais diferentes, é comum o sono ficar desregulado (jet-lag). A neurologista e especialista do sono, Jane Lúcia Machado explica que, quando o sol desponta no horizonte, o relógio biológico, localizado no quiasma óptico, já dá um sinal para o corpo.

Uma das maiores dúvidas é o tempo ideal para cada um descansar totalmente. Jane Machado diz que não tem como afirmar o tempo mínimo necessário para dormir. “Há indivíduos dormidores curtos, ou seja, que ficam satisfeitos e prontos para as atividades diurnas com apenas seis horas, 6 horas e meia de sono por noite; e os dormidores longos, que só ficam satisfeitos com 9 a 10 horas de sono; além dos intermediários, que, com 7 a 8 horas, funcionam plenamente. Para ser mais exata, o tempo mínimo de sono necessário é aquele que faz o indivíduo acordar com sensação de noite bem-dormida e pronto para enfrentar as atividades do dia sem cansaço, fadiga, irritação”, esclarece Jane.

Com a falta desse autoconhecimento sobre o sono, o funcionamento geral do corpo, tanto físico quanto psicológico, pode ficar prejudicado, como explica a psicóloga Valéria Mori: “Não ter uma boa noite de sono pode implicar problemas de memória, irritabilidade e performance ao longo do dia, ou seja, prejudica a forma como a gente vai organizando o nosso cotidiano. A privação de sono vai deixando os nossos reflexos para responder e pensar mais lentos”.





Ela ainda chama a atenção para o uso dos celulares antes de dormir, pois podem atrapalhar o sono: “Se não conseguir se desconectar, use o modo noturno. As luzes das telas inibem a produção de melatonina, nos deixando mais ativos bem na hora do descanso. É fundamental que você tenha uma rotina de sono”,  acrescenta a psicóloga.

Estudo publicado pela revista JAMA Internal Medicine, em 7 de fevereiro último, mostra que é possível perder quase 300 calorias por dia dormindo. A pesquisa, que foi feita com jovens adultos com excesso de peso e que normalmente dormiam menos de seis horas e meia, mostrou que os participantes diminuíram a ingestão calórica após aumentar de seis para oito horas e meia de sono.

A privação de sono, independentemente do motivo, afeta a grelina e a leptina, hormônios responsáveis por controlar a fome e a saciedade, respectivamente.

A boa qualidade de sono faz com que haja equilíbrio energético e a manutenção da massa corporal. “As evidências científicas mostram o avanço da obesidade a níveis alarmantes em todo o mundo devido às alterações metabólicas. É importante salientar que o cortisol também sofre aumento e está envolvido no desbalanço dos níveis de glicose e geração de estresse, quando em níveis elevados, corroborando não só para a obesidade mas também para a diabetes”, esclarece Jane Machado.

A maior dificuldade em regular o sono é mudar o comportamento sobre hábitos relacionados com a má higiene do sono. Jane explica ainda. “Muitas vezes, é necessária a introdução de medicamentos indutores e mantenedores do sono, inclusive com uso de suporte psicológico, como a terapia cognitiva comportamental e mudanças de estilo de vida.”