Hoje estamos enfrentando um estresse prolongado que tem gerado doenças ou piorado as já existentes. Além de prejudicar o funcionamento saudável do nosso organismo, a síndrome estresse COVID está modificando o nosso comportamento com certas compulsões que trarão outros problemas de saúde: ou seja, é muito comum que o estresse leve a pessoa a consumir mais doces e alimentos ricos em carboidratos, alimentos chamados de confort food ou comida que traga conforto.
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Neste Dia de Conscientização do Autismo, aprenda a identificar o distúrbioDeveríamos conhecer muito bem as doenças hereditárias, mas isso não ocorreGinástica faz bem para todo mundo, inclusive para as grávidasLuto não gera só tristeza. Pode causar dores físicas reaisControlar os sintomas de Parkinson é importanteConhecer as cores que combinam garante autonomia e liberdadeUm dos efeitos mais nocivos que está se apresentando hoje é a normalização do que é patológico. Por exemplo, as pessoas já começaram a se acostumar com o fato de o transtorno de ansiedade se tornar corriqueiro. As pessoas estão normalizando a situação, minimizando o problema. Não importa se está todo mundo adoecido, mais ansioso e sofrendo com algum transtorno, e não faz diferença quem sofre mais ou menos, uma vez que a doença está sendo vista como algo normal nos dias de hoje, o que é muito perigoso, alerta Gesika Amorim, médica especialista em saúde mental e neurodesenvolvimento.
Hoje, há um enorme número de pessoas que desenvolveram quadros de ansiedade e depressão, além daquelas que já tiveram esse problema antes da pandemia e, mesmo com a situação controlada, voltaram a ter crises mais frequentes e intensas. E isso tem agravado principalmente a saúde mental de crianças e adolescentes.
Evento tão adverso em escala global, sendo ainda considerada um fator de estresse e violência, a pandemia quebrou o ciclo do desenvolvimento das crianças, seja através de alterações na arquitetura cerebral, alterações imunológicas e hormonais, e também estresse parental e social, que pode prejudicar o crescimento e desenvolvimento da criança. O estresse crônico vai comprometer esse desenvolvimento, o que é preocupante.
O maior problema é que, com o novo normal, e como já dito, o transtorno de ansiedade está sendo visto e levado como não patológico. A doença está se normalizando, as pessoas estão se acostumando com os sintomas de palpitações, sudorese nas palmas das mãos, expectativa de coisas ruins, sensação de desesperança e sofrimento, minimizando o problema.
Outro grande problema que faz parte do novo normal, e que também está atingindo crianças e adolescentes, são as mudanças comportamentais. Crianças entre 2 e 4 anos perderam, praticamente, dois anos do início de suas vidas. São crianças que não conviveram em sociedade, elas não sabem brincar com outras crianças, não conviveram em família e, em muitas situações, não aprenderam a cumprir regras e ordens. São crianças que não tiveram infância.
Sem acesso à nossa realidade antes da pandemia, elas conhecem uma realidade completamente anômala, principalmente crianças que vivem em apartamentos.
Muitas dessas crianças estão com dificuldade de se ressocializar com os colegas, inclusive com a volta às aulas, sentindo-se inseguras no contato com o ambiente escolar.
Adolescentes passaram a se isolar ainda mais com a pandemia, voltando-se para as telas, com jogos virtuais ou fazendo uso excessivo das redes sociais, afastando-se ainda mais da realidade.
Os adolescentes, na faixa de 12 a 16 anos, ficaram dois anos em casa, em uma fase em que a socialização é muito importante. Esses adolescentes ficaram convivendo on-line, no mundo virtual.
A consequência é que temos uma juventude que não sabe lidar com o embate, não sabe trabalhar o emocional. Estamos tendo uma leva de adolescentes com transtornos comportamentais, transtornos de humor e quadros depressivos, isso porque não conhecem as emoções ruins, não sabem viver em sociedade e, agora, precisam encarar a realidade.