O Dia Mundial de Combate ao Câncer, comemorado em 8 de abril, visa conscientizar a população sobre formas de prevenir os diferentes tipos dessa doença. Sabemos, por exemplo, que o excesso de álcool está ligado ao câncer no fígado, enquanto o cigarro está relacionado ao câncer de pulmão. Quando são feitas essas associações, criam-se mecanismos para fornecer mais informações às pessoas, a fim de adequar seus hábitos. No entanto, quando o assunto é câncer no cérebro, estamos navegando no vazio.
“Os tumores cerebrais ainda são alvo de muitos estudos, principalmente em relação às suas causas. Por isso, não existem medidas para prevenção. Também não existem sinais de alerta que permitam dizer ao médico, hoje, que o paciente tem um câncer cerebral. Então, por exemplo, ainda não temos uma forma de rastreamento que compense aplicar a nível populacional para evitar essa doença”, explica Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (Snola).
“Apesar disso, o tumor gera sintomas a depender de onde ele nasce. Costumo dizer aos meus pacientes que um tumor de 0,5cm que nasce no lugar errado pode colocar um paciente na cadeira de rodas, mas um tumor de 10cm longe de áreas nobres pode nem sequer gerar sintomas se ele crescer bem lentamente. De qualquer forma, temos que levantar suspeitas de que algo errado está acontecendo no nosso cérebro quando temos dores de cabeça diferentes do habitual, mais fortes e que respondem menos aos remédios, fraquezas de um só lado do corpo, crises epilépticas, redução da sensibilidade em alguma parte do corpo, boca torta ou rosto torto, entre outros”, acrescenta o médico.
Segundo ele, o paciente deve estar atento para identificar a dor de cabeça diferente. “A suspeita de tumores cerebrais não é levantada com qualquer dor de cabeça comum, apenas quando ela apresenta algum alarme, ou seja, é diferente. O surgimento de uma dor de cabeça nova (para quem nunca sente esse tipo de dor), a mudança do tipo de dor de cabeça, a piora da intensidade (quando ela fica mais forte com o passar do tempo e de difícil controle), aumento da frequência (quando a dor aparece mais vezes) ou quando a dor é fixa (toda vez ela aparece no mesmo lugar) são sinais que podem ajudar no diagnóstico”, afirma o neuro-oncologista.
Epilepsia com quadros de desmaio, fadiga, formigamento no corpo, amnésia, confusão mental ou outras crises convulsivas, principalmente quando o paciente apresenta a crise pela primeira vez, ou não tenha recebido o diagnóstico de epilepsia antes, também pode ser motivo de preocupação.
Outro sintoma comum é a perda de funções neurológicas, os chamados déficits focais. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão ligado ao Ministério da Saúde, o paciente pode apresentar perda de força ou do tato nos membros; de visão ou de audição; alterações da fala ou da capacidade intelectual (compreensão, raciocínio, escrita, cálculo, reconhecimento de pessoas); ou de comportamento (apatia, agitação ou agressividade) em relação ao padrão normal da pessoa. “O surgimento de uma ou mais dessas alterações neurológicas deve ser sempre relatada ao médico para acelerar o diagnóstico”, explica o especialista.
Essa identificação do paciente é importante, uma vez que hoje não conseguimos identificar métodos de rastreio efetivos para encontrar esses tumores no início do seu crescimento, segundo Gabriel Novaes: “Nosso cérebro não tem receptores para dor, e ele é protegido pela nossa calota craniana, muito diferente dos seios, que podem ser apalpados; dos pulmões, que podem ser auscultados; e do nosso intestino, que pode ser visualizado facilmente. Pedir para que todos no mundo façam tomografia de crânio seria imprudente, e aumentaria terrivelmente as irradiações em pessoas saudáveis, e nem precisamos comentar quanto à ressonância magnética, exame caro e de difícil acesso por muitos pacientes. Quando encontrarmos maneiras efetivas de frear esses tumores, talvez possamos sugerir formas de gerar uma prevenção a nível populacional e salvar muitas vidas, mas ainda é cedo”, conta.
No caso do tratamento, o neuro-oncologista diz que há basicamente três pilares principais: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. “Em casos extremamente bem selecionados podemos tentar, em caráter de exceção, terapias-alvo ou imunoterapias, mas ainda não são estratégias provadas efetivas nos tumores cerebrais, apesar de estudos estarem extremamente avançados e muita esperança paira sobre os neuro-oncologistas em todo o mundo”, finaliza o médico.