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Estado de Minas DESAPARECIDOS

Caso Zuzu Angel comprova que memória curta é predicado nacional

Estilista mineira e o filho Stuart foram assassinados. Não dá para acreditar que crimes praticados pelo Estado durante a ditadura militar sejam desconhecidos


26/04/2022 04:00 - atualizado 26/04/2022 00:57

Zuzu Angel com os filhos adolescentes Hildegard, Ana e Stuart
Estilista mineira Zuzu Angel com os filhos Hildegard, Ana e Stuart. Estilista lutou bravamente para esclarecer a execução de Stuart e morreu em acidente planejado por agentes da repressão (foto: Instituto Zuzu Angel/divulgação)

Fiquei pasma dias atrás por causa do auê publicado em toda a imprensa nacional por causa da liberação de todos os documentos, filmes, processos e matérias – afinal, vejam só – sobre os crimes praticados nos anos da ditadura militar contra os brasileiros que advogavam, batalhavam e lutavam em busca de outra identidade política no país.

Não sei se sou ligada a esse tipo de memória política desde a existência de Hitler e os horrores praticados durante o nazismo, mas, até onde sei, não perdi nada que se divulgou da prática desumana nos anos de chumbo que o Brasil enfrentou nos tempos da ditadura militar.

Não acredito que o assunto vá longe e, no fundo mesmo, gosto de compará-lo com a CPI que se desenrolou durante meses, buscando implicados nos crimes praticados em nome da COVID-19 e acabou em nada. Não só despareceram do noticiário como não condenaram ninguém. 

Não dá para acreditar que os crimes praticados no país nos anos da ditadura militar sejam desconhecidos. Até quem não queria acreditar acabou sabendo, no leve ambiente da vaidade, da batalha da estilista mineira Zuzu Angel, que moveu céus e terras para descobrir o que fizeram com seu filho Stuart.

Na manhã de 14 de maio de 1971, Stuart Angel, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), foi preso no Rio de Janeiro e levado para a Base Aérea do Galeão. Segundo depoimento do preso político Alex Polari de Alverga, que esteve com ele naquela unidade da Aeronáutica, Stuart foi brutalmente torturado e não resistiu, vindo a falecer na noite daquele mesmo dia.

 Zuzu Angel passou a buscar informações sobre o filho e o direito de sepultá-lo, denunciando as arbitrariedades praticadas pela ditadura à imprensa, a órgãos internacionais. Ainda em 1971, realizou um desfile/protesto no consulado brasileiro em Nova York. Suas criações incorporaram elementos que denunciavam a situação, com estampas representando tanques de guerra, canhões, pássaros engaiolados, meninos aprisionados, anjos amordaçados.

Personagem notória do Brasil da época da ditadura militar, ficou conhecida nacional e internacionalmente não apenas por seu trabalho inovador como estilista de moda, mas também pela  procura por Stuart, assassinado pelo governo e transformado em desaparecido político. Ela enfrentou as autoridades da época e levou sua busca a se tornar conhecida no exterior. Fora do noticiário liberado, todos já sabiam o que havia acontecido com o rapaz, ativista político.

Depois de muito sofrer nas mãos do DOI-Codi, Stuart foi arrastado na pista de pouso de um aeroporto e teve o corpo descartado no mar para não ser encontrado. 

Uma ponta da verdade apareceu em 2014, quando a Comissão Nacional da Verdade recebeu de Cláudio Antônio Guerra, ex-agente da repressão que operou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social do Espírito Santo, a confirmação da participação dos agentes da repressão na morte de Angel em alto-mar.

Em 14 de maio de 1971, a busca pelo irmão foi feita pela prestigiada jornalista Hildegard Angel, que trabalhava no jornal O Globo e que, em 2019, se dirigiu ao 8º cartório do Registro Civil da Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro, com mandado judicial, e conseguiu finalmente emitir as certidões de óbito de sua mãe, Zuleika, e de seu irmão, Stuart. A busca constante que Zuzu fazia do filho lhe renderam a morte, camuflada na época como acidente de trânsito. 

As causas dos falecimentos foram atestadas como “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistêmica e generalizada à população”.

Zuzu morreu em 1976, no que a ditadura classificou como acidente automobilístico na saída do túnel D, em São Conrado. 

Em 1998, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu o regime militar como responsável pela morte da estilista. Segundo depoimentos, ela teria sido jogada para fora da pista por um carro pilotado por agentes da repressão. Hoje, o túnel é chamado Zuzu Angel.

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