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Estado de Minas SAÚDE

Luto não gera só tristeza. Pode causar dores físicas reais

Especialistas explicam que alterações psicológicas, como depressão e ansiedade, acabam ocasionando sintomas físicos


28/04/2022 04:00 - atualizado 27/04/2022 23:43

Ilustração mostra pessoa com o rosto sobre mesa, aparentando extrema tristeza
Fernando Lopes/CB/D.A Press


Nos últimos anos, a quantidade de pessoas que passam pelo luto cresceu de forma chocante para a população, seja você o próprio enlutado ou alguém que lida com pessoas próximas que passaram pelo processo de perdas. Só em 2021, por exemplo, o Brasil encerrou o ano com 412.880 mortes registradas pela COVID-19, sem contar as mortes geradas por outros motivos, ou seja, a forma como o brasileiro lida com a situação precisou ser repensada, e este processo envolve uma série de fases de adaptação.

A psicóloga e pesquisadora Bianca Mayumi explica que o luto é o nome que se dá para o processo da elaboração de qualquer perda na vida. “Ele se dá a partir do momento em que se toma consciência sobre a perda, podendo ocorrer antes, durante ou após a situação, sem tempo pre-determinado", afirma.

O processo de luto se dá pelo rompimento de um vínculo significativo, independentemente de como aconteceu, por exemplo: separação e distanciamento de pessoas ou animais queridos, morte de parentes, amigos ou até de pessoas que não tinham ligação direta, como foi o caso de comoção belo-horizontina pela notícia de falecimento de figuras marcantes da sociedade local.

É importante explicar que o luto gera dores físicas reais e que sempre representam alguma coisa. O que a pessoa está sentindo não irá se dissipar com remédio para dor, porque o que a está causando é um processo psicológico. Essa experiência perpassa a subjetividade, ou seja, é uma experiência que não tem fórmula ou bula para seguir. Mas Bianca também chama a atenção para a diferenciação de um processo de luto e um episódio depressivo.

“O transtorno depressivo se caracteriza pela presença de humor triste, vazio ou irritável que afeta a capacidade de funcionamento do indivíduo de forma persistente e pela incapacidade de antecipar felicidade ou prazer. Já o luto se caracteriza com oscilações do humor depressivo, variando de intensidade e duração, e se relacionando com pensamentos e lembranças sobre a perda sofrida, podendo ser acompanhadas de emoções e humores positivos”, explica Bianca, que também é pesquisadora feminista e produtora de conteúdo sobre psicologia para as redes sociais.

Ao somar as emoções vividas em um período de luto, em que a pessoa precisa continuar sua rotina normal, é comum que surjam sintomas. “O físico do indivíduo reflete o sofrimento psíquico passado por ele. Alguns possíveis sintomas do luto são insônia, ruminação de mágoas, falta de apetite e perda de peso”, complementa a psicóloga. Ela explica ainda que o processo de luto é algo bastante individual para cada pessoa e se dá de diferentes formas a partir tanto da abordagem de cada terapeuta quanto do processo de melhora de cada um.

“O tempo dentro do processo não é algo mensurável, indo de acordo com a abertura dada, a relação terapeuta-cliente, o contexto particular de cada pessoa e diversas outras variáveis, e, por isso, torna-se impossível fornecer uma data de validade para o que a pessoa está sentindo”, destaca.

A melhor maneira de identificar a causa do sofrimento e tratar é por meio do autoconhecimento e terapia. “É possível perceber que está ocorrendo o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento ao luto quando o foco do cliente passa da dor sentida para a saudade das memórias vividas e reinvestimento de energia em outras áreas da vida”, observa a especialista.

Os neurologistas chamam a atenção para várias doenças ligadas a fatores psicogênicos ou de cunho psíquico em que não existe um componente causador do problema. Geralmente, são alterações psicológicas, seja depressão, ansiedade ou outras que acabam ocasionando sintomas físicos, sem que haja causa orgânica para isso. A médica neurologista Priscila Proveti explica que é possível que o paciente desenvolva uma dor no braço, por exemplo, sem que exista nenhum trauma.

“Não tem nada de errado com o braço, mas ele sente a dor, e a dor é real. Quando a gente faz ressonância funcional nesses pacientes, observamos que existe uma alteração em neurotransmissores, em algumas regiões específicas do cérebro. Principalmente no sistema límbico, responsável pelas emoções. Então, sim, o nosso psicológico pode ocasionar dores e muitos problemas no corpo que não são de cunho orgânico”, explica Priscila.

As dores podem ser em qualquer região do corpo, desde dor de cabeça até dor nos braços, nas pernas, na região lombar, diarreia e até alterações cardíacas e formigamento nos membros. “Existem pacientes que podem ter até perda de força e crises que simulam crises convulsivas por causa de alterações psicogênicas” exemplifica a neurologista, que também atende no Hospital Anchieta, em Brasília.

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