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Estado de Minas COLUNA DA ANNA MARINA

Dia das Mães e uma homenagem diferente em 'Memórias de viagem'

Transcrevendo o texto de meu marido, na abertura do último livro escrito por minha mãe, presto minha homenagem não só a ela, mas a ele também


07/05/2022 04:00 - atualizado 07/05/2022 07:49

Ilustração da coluna da anna marina
Lygia e Cyro Siqueira estão presentes no livro 'Rua Direita'

 
Entrego hoje o texto que deveria ser dedicado à minha mãe e ao meu marido, Cyro Siqueira. Começaram o conhecimento às turras e terminaram superamigos. Era o genro de que ela mais gostava – e ele a sogra também. Tanto que a levou à Europa, procurando fazer o roteiro que ela escolheu. No livro “Rua Direita” – memórias que ela escreveu –, fez questão de que ele fizesse a abertura. E ele fez, com um texto chamado “A chave do mistério”, que passo aos leitores desta coluna.
 
“Armada de uma curiosidade universal, dona Lygia por tudo se interessa – e graça a isso termina interessando a todos. Com uma capacidade de comunicação que é uma das marcas mais curiosamente típicas desses admiráveis Teixeiras da Costa de Santa Luzia – de onde terão eles trazido essa qualidade, no coração de uma terra mineira de gente ensimesmada e de tão grandes silêncios? – ela se faz entender 'urbi et orbi'. Como no ônibus onde íamos ela, sua filha e eu, entre Roma e Nápoles, a caminho de Capri.
 
Ao seu lado, sentou-se um cidadão inglês e seu bigode colonial. Ao passarmos perto de Monte Cassino – ou Castelo – ela, informada pelo fato, iniciou em português uma longa conversa com seu vizinho – que não entendia português. Não houve problema: ela conversou em português, ele conversou em inglês. Ambos terminaram se entendendo. No fim da viagem, ela comentou comigo: 'Esse homem aí gostou muito das coisas que contei para ele sobre aquele lugar onde os soldados brasileiros derrotaram os alemães'. E gostou de fato, pois não existem barreiras de línguas que detenham as águas de um oceano.
 
Assim foi também quando eu a levei para visitar as ruínas do Fórum Imperial em Roma, imponência que resistiu a séculos de guerra e devastação. No meio das colunas e colunatas e dos jardins dos Césares e suas mil mulheres, dona Lygia, um assobio nos lábios, colhia pequenas flores silvestres que teimavam em brotar ali, sobre os passos que ainda escoavam das legiões romanas.
 
Foi uma viagem inesquecível, que teve momentos da mais genuína emoção, como quando ela se sentiu diante das ruínas de Pompeia, que representam, na realidade, aquilo que ela sentiu, a epitome arquitetônica de todo um período da história da humanidade. Ou quando ela penetrou na casa que fora de Axel Munthe, no coração de Anacapri, um momento que distingue a grandeza do homem. Mas foi em Portugal que dona Lygia mais se realizou ao encontrar suas raízes em Vianna do Castelo e nos pequenos lugares que fazem o encanto daquela terra abençoada. Pois calor humano é o que não tem faltado a dona Lygia.”
 
Acho que transcrevendo o texto de meu marido, na abertura do último livro escrito por minha mãe, presto minha homenagem não só a ela, mas a ele também, um genro que soube tratar a sogra como uma verdadeira mãe. Aos dois, minha saudade eterna.

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