Hoje, 7 de junho, é marcado pela comemoração nacional da liberdade de imprensa, um dos mais importantes direitos da democracia. É o direito dos profissionais da mídia de fazerem circular livremente as informações. O contrário dela é a censura, própria de governos ditatoriais, que limitam o poder de ação da mídia de acordo com seus interesses particulares.
Na época em que o país viveu a ditadura, eu era criança e depois pré-adolescente, mas tinha primos que lutaram contra ela e foram presos e torturados. Meu pai já trabalhava no jornal e, apesar de não ser jornalista – era advogado e atuava na administração da empresa –, sabia de tudo que se passava. Quando chegava em casa, geralmente comentava com minha mãe sobre alguma matéria que havia sido proibida de sair.
No final da década de 1970, participava de um grupo de teatro amador evangélico, o Verbenas, e tínhamos que fazer ensaio geral para a Polícia Federal. Eram três censores que entravam mudos, sérios, assistiam à peça com o texto na mão e depois o entregavam com os possíveis cortes e observações ao diretor Marco Antônio Gualter Rosas. Sem chances para qualquer apelo ou explicação.
Em 1982, fui participar do “Showçaite” pela primeira vez, um show beneficente feito por pessoas da sociedade, com dança, música, desfile de moda, apresentadores interligando as atrações e esquetes. Era do jornal, eu já trabalhava na casa. E não é que no ensaio geral vejo os três censores na plateia? Até hoje não entendi o que eles queriam censurar ali. Assim era a ditadura.
Fiz uma pequena pesquisa para mostrar um pouco o que a imprensa já passou, uma vez que não vivi em algumas dessas épocas e em outras era muito nova: “O período da República no Brasil foi marcado por vários atentados à liberdade de imprensa. Durante a República Nova, a primeira lei de imprensa retirava do código penal os crimes de imprensa e reformou o processo desses crimes. Além disso, instituiu o direito de resposta.
Durante o regime militar, também foi instituída a chamada Lei de Imprensa, estabelecendo importantes restrições à liberdade de expressão. Todo e qualquer tipo de notícia deveria passar pelo crivo de censores, sendo barrada quando detectada alguma hostilidade ao governo. Durante os 'anos de chumbo', chegou-se a criar um Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) para executar essa tarefa. Os anos da ditadura militar na América Latina serviram para fortalecer o ideal de liberdade e democracia pregado pelos agentes da imprensa. Com o fim do período ditatorial e com o advento da Constituição Federal de 1988, os fundamentos legais acerca do direito à informação foram estabelecidos, garantindo a liberdade de imprensa, desde que vedado o anonimato”.
Não sou de esquerda, mas me arrepia quando ouço algumas pessoas de extrema-direita levantando bandeira a favor da retomada do país por militares, pedindo a volta da ditadura. Só quem nunca viveu essa época pode falar algo assim.
Talvez por tudo que o país viveu, essa data seja celebrada através do exercício de nosso trabalho, sem protestos. É importante que esse dia nos lembre que os meios de comunicação têm o direito e o dever de manter as pessoas informadas.
Mas acredito que essa liberdade que temos tem que ser acompanhada de respeito à liberdade dos outros. Temos o direito de liberdade, mas temos uma obrigação com a ética. Em um mundo que está invadido por avalanches de fake news, e com o avanço da tecnologia é possível criar imagens e falas nunca ditas antes, cabe à imprensa apurar a veracidade de tudo antes de divulgar. Mesmo que isso custe perder o “furo jornalístico”, pois a repercussão de uma notícia errada pode fugir do controle. E todos nós sabemos que uma afirmação errada repercute muito mais que o direito de resposta.
(Isabela Teixeira da Costa/Interina)