Ontem (7/6), foi realizado o leilão da marca Daslu e, junto com ela, a venda de 50 registros que incluem o uso da marca em diversos tipos de roupas, aparelhos de jantar, artigos para pets, serviço de decoração de festas e cerimonial, entre muitos outros usos, além de incluir o domínio da marca na internet, criado em 1997.
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A Daslu foi do luxo ao lixo. Faliu depois de passar por investigações da Polícia Federal. Sua proprietária, Eliana Tranchesi, foi acusada de sonegação fiscal, importações ilegais, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Se safou da cadeia porque teve câncer de pulmão e faleceu em 2012.
Não sei quem já deu uma de jeca tatu na vida. Eu já. Agora virou pagar mico. Mas me lembro, como se fosse hoje, de ir, quando tinha uns 10 ou 11 anos, com minha irmã à casa de uma amiga dela, na Cidade Jardim. Estou falando de 1970. Ela tocou campainha e o enorme portão começou a abrir, sozinho, do nada. Eu fui acompanhando com a cabeça, procurando para ver quem estava fazendo aquela façanha. Não encontrei ninguém, claro. E lá no fundo do jardim de entrada estava a amiga dela, nos esperando. Imediatamente me deu uma vergonha enorme, com medo de que alguém tivesse visto o meu fora. Foi a primeira vez em que vi um portão eletrônico na vida.
Em 2001/2002, não sei o ano ao certo, fui com Anna Marina a São Paulo, provavelmente para acompanhar a edição da São Paulo Fashion Week. A Daslu estava no auge. Em todas as rodas femininas da sociedade mineira, o principal assunto era a Daslu. A loja existia há anos, mas foi em 1990, quando Eliana Tranchesi, filha da fundadora, passou a dirigir a loja que ela explodiu.
O sucesso foi tanto que a Chanel aceitou abrir a primeira loja da marca dentro de outra loja pela primeira vez no mundo. E a mulherada pirou de vez. As mineiras então... Nem te conto. Em cada coquetel, jantar, almoço ou chá, era um desfile de bolsas, sapatos, tailleurs, tudo da elegante marca – a maioria exibindo o logotipo em fechos e botões. Mesmo que cada uma delas tivesse dinheiro e tempo de sobra para ir a Paris comprar na maison, faziam questão de adquirir as peças na Daslu.
Demos uma fugida do trabalho e fomos até lá com uma grande amiga, que viajou conosco e era cliente da loja, das boas. Era um labirinto de casinhas interligadas no bairro Vila Conceição, muito bem decorada, com lindos jardins com gazebos. Fomos muito bem recebidas, mas tinha tanta gente que de fato era impossível ter uma das “dasluzetes” à nossa disposição. Fiquei com os olhos arregalados, e quem me conhece sabe o tamanho que eles ficam. Na hora, lembrei-me da minha cena vendo o tal portão abrindo sozinho, e tentei despistar, mas devia estar tão apatetada como daquela vez. Juro que estava dando atestado de jeca tatu.
Anna Marina não, estava realmente impressionada com o formigueiro de mulheres comprando em todos os ambientes, mas estava acostumada com lojas de alto luxo. Viajava anualmente para Paris, comprava roupas na Thierry Mugler e sapatos na Ferragamo.
Depois de percorrer várias casinhas, chegamos ao ambiente que dava acesso à loja Chanel. Ficava em um espaço tipo sótão, e tínhamos que subir uma escada discreta, sem nenhuma pompa nem circunstância. Lá fomos nós, porque nossa amiga estava com uma lista infindável de encomendas feitas pela mãe, irmã e algumas amigas.
Cada peça mais linda do que a outra. A vendedora mostrava, pedia nossa opinião, que dávamos com a maior propriedade, afinal, Anna Marina dispensa qualquer referência no que se refere a moda e bom gosto. Eu estava aprendendo com ela, também sei o que é bonito e já havia adquirido certa bagagem de conhecimento, faltava mesmo era cacife para o gasto.
Apesar de nossas indicações, ela sempre escolhia outra peça, até que entendemos o motivo: sempre optávamos pelas mais discretas, e ela sempre escolhia as que mostravam a marca com maior destaque. Até que em determinado momento disse: “Se as pessoas não puderem ver que é Chanel, de que adianta comprar aqui?”. Nos calamos na hora.
A marca Daslu foi vendida ontem por R$10 milhões.
(Isabela Teixeira da Costa/Interina)