Todo mundo conhece a lanchonete Xodó, hoje chamada de hamburgueria Xodó. Mesmo quem nunca entrou para degustar um de seus sanduíches ou sorvetes sabe muito bem onde ela fica. Afinal, está há seis décadas na esquina de Avenida João Pinheiro com Rua Gonçalves Dias, em frente à Praça da Liberdade.
Isso mesmo, o Xodó está completando 60 anos, entrou pra turma dos idosos, como a maioria de nós, passou por algumas plásticas, se atualizou e modernizou, por fora e por dentro.
Está sob nova direção desde 2018, e as três mulheres que compraram a empresa voltaram com alguns clássicos com toques de modernidade, mas fizeram questão de criar um cardápio cheio de novidades, com sabores e ingredientes atuais, jovens, modernos, que agradam a todas as idades.
Lembro-me demais de ir ao Xodó para lanchar, ainda pequena. Meus pais nos levavam lá com frequência. Sempre pedia cheeseburger e não abria mão do sundae de marshmallow de sobremesa, amava! Eu me lambuzava inteira, dava um trabalhão para limpar, mas valia a pena. Minha mãe preferia o hotfood, que era um sundae de baunilha com calda quente de chocolate.
O preferido da minha irmã era o sanduíche beirute, feito com pão árabe, e levava fatias finas de carne, queijo e salada de alface com tomate.
Minha tia Neury, irmã da minha mãe, morou alguns anos no edifício Campos Elísios, ao lado do Xodó; depois, morou no edifício Niemeyer, que fica na Praça da Liberdade, a um quarteirão da lanchonete. O Xodó era point de paquera. No fim de semana, dava congestionamento de carros parados e andando a 10km/h; eram os “boys” pondo reparo nas moças e vice-versa. Eu era a mais nova da família, dos 6 aos 10 anos, e minhas primas já tinham 14 ou mais, e me usavam como desculpa para sair.
Meu tio Décio era muito bravo – eu morria de medo da voz grave que ele tinha. Depois que cresci, vi que ele era um doce de pessoa – trazia as meninas em rédea curta, então, eu era a salvação da lavoura. “Pai, vamos levar a Isabela para lanchar no Xodó.” Às vezes, a desculpa era comprar pão na padaria Savassi. Pronto, permissão concedida. Elas se aprontavam num chiquerê que só bobo não percebia que a intenção era outra. Lá íamos nós.
Sempre fui gordinha e acho que muito foi por isso, elas me “tacavam” comida e sorvete para demorar bastante, e ficavam na paquera, como pediram a Deus. No dia em que a desculpa era a padaria, o pão só chegava para ser consumido no café da manhã.
Depois que cresci um pouco, passei a frequentar o local com minhas amigas. Naquela época, não tinha os perigos de hoje e com 13 anos íamos a pé lanchar no Xodó, depois do colégio, quase toda sexta-feira. Estudava à tarde no Izabela Hendrix, pertinho de lá. Passei a experimentar outros sanduíches, sundaes, milkshakes, banana split. Vamos crescendo e o paladar se amplia.
A Feira Hippie era na Praça da Liberdade nas manhãs de domingo, e era sagrado ir à feira e depois lanchar no Xodó. Nessa época, lá já não era mais o point, mas continuava sempre muito movimentado.
É muito bom reviver todas essas lembranças; melhor ainda é saber que a casa está na ativa e revigorada. Por coincidência, semana passada tive que ir a uma empresa nas proximidades, mas a pessoa com quem fui falar só chegaria mais tarde. Decidi fazer uma hora pelas redondezas e fui até o Xodó para ver se estava aberto. Assim, tomaria um café, mas estava fechado. Acabei descendo alguns quarteirões e “matei” o tempo em outra casa das antigas, que continua ótima, a confeitaria Mole Antoneliana.
Parabéns ao Xodó, que venham outros 60. No domingo, o caderno Degusta publicará matéria com as novidades do mais novo sessentão da praça.
(Isabela Teixeira da Costa/Interina)