Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Tem mania de coçar os olhos? Cuidado com o ceratocone

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Sempre cocei os olhos e nunca pensei que isso pudesse ocasionar algum problema, até que um dia passei o maior perrengue. O oculista me disse que não deveria coçar, porque pode ocasionar doença mais grave.

Nunca tive problema de vista, mas depois dos 40 anos passei a precisar de óculos para ler, é a velha história do braço que fica curto. Em pouco tempo, minha visão a média distância também precisou de óculos. Faz parte da vida. Assumi totalmente meus óculos bifocais. Mas para ir a festas grandes e casamentos prefiro colocar lente de contato. Não é 100%, mas quebra um galho muito bom.





Numa dessas noites de festa, cheguei em casa e, antes de tirar as lentes, fui tirar a maquiagem. Esfreguei o algodão com desmaquilante na área dos olhos, fiz toda a limpeza facial e, quando fui tirar a lente de um dos olhos, cadê? Revirei, olhei em todos os cantos e nada. Fiquei desesperada, e quando estamos nervosos, tudo piora. Enfiei o dedo no olho, o cotonete e nada. Imaginei que a lente tivesse entrado para trás do olho, pensei logo: “lascou”.

A solução foi ir ao Centro Oftalmológico de Minas Gerais, que tem plantão 24h. A médica que me atendeu explicou que – graças a Deus – o olho tem uma proteção e nada que cai dentro dele passa para a parte de trás. Já fiquei mais tranquila. Sem brincadeira, ela ficou mais de meia hora procurando a lente. Chegou a dizer que ela deveria ter caído do olho e não tinha percebido. Insisti que não, que a bendita estava lá. Dobrou minha pálpebra superior, pingou aquele colírio que colore o olho, “cavucou” de tudo quanto é jeito.

Custou, mas achou a danadinha, dobrada no cantinho do olho. Que alívio! E durante a consulta, disse a ela que coçava muito os olhos, inclusive de lente, e perguntei se corria o risco dessa situação se repetir. Foi aí que ela me falou de uma tal de ceratocone.





O assunto acabou caindo no esquecimento, mas recebi um material do Hospital de Olhos sobre o tema, lembrei do caso e achei melhor contar aqui, para alertar os leitores.

O simples ato de coçar os olhos é o principal fator de risco para o ceratocone, doença ocular que causa alterações na estrutura da córnea, tornando a visão embaçada. No H.Olhos, de São Paulo, hospital referência no atendimento de casos de alta complexidade em oftalmologia, cerca de 40% dos diagnósticos de pacientes atendidos nos ambulatórios de córnea são para a doença. Do total de casos, em torno de 20% evoluem para transplante de córnea.

O problema costuma surgir na infância, adolescência ou no início da fase adulta. Embora dependa de estímulos externos importantes que levam ao afinamento da córnea, como pressionar e, principalmente, coçar os olhos com frequência, estudos apontam que em 10% dos casos são hereditários, e o diagnóstico precoce é crucial para frear o avanço rápido da doença.

“O ceratocone é uma doença bilateral e geralmente assimétrica, ou seja, pode acometer os dois olhos, em graus diferentes, e progride de forma distinta com o passar do tempo. A principal queixa é a visão embaçada e destorcida”, explica o oftalmologista Luiz Brito, especialista em transplante de córnea.

A boa notícia, segundo o médico, é que existem tratamentos minimamente invasivos capazes de estacionar a doença e restabelecer a visão. O desafio é evitar a forma avançada da doença, casos em que a única opção é o transplante de córnea.

Fica aí o aviso para evitar maiores problemas.

(Isabela Teixeira da Costa/Interina)