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Estado de Minas ANNA MARINA

Médico de família: especialidade está em extinção?

Pacientes buscam cada vez mais um clínico geral, que olha a pessoa toda, igual aos médicos de antigamente


11/07/2022 04:00 - atualizado 11/07/2022 08:11

Médico com estetoscópio no pescoço
Médicos que têm um olhar para o todo e conhecem bem os pacientes são os mais requisitados (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Outro dia, conversando com uma prima, ela disse que precisava de um clínico geral, que olhava a pessoa toda, igual aos médicos de antigamente, que atendiam a família inteira, conheciam todo mundo e acabavam virando amigo. E quando a gente passava mal, muitas vezes pelo telefone já sabia o que tínhamos. E ela disse em um tom de desolação: “Acho que não existe mais”.

Na mesma hora, indiquei o médico da minha mãe, Samuel Vianney da Cunha Pereira. Ele é maravilho e é o legítimo médico de família. E fui lembrando de como ele entrou na vida da nossa família. Há mais de 15 anos, minha mãe teve um edema pulmonar por causa de problemas no coração. Corremos com ela para o Mater Dei, nosso porto seguro. Somos acolhidos com amor e carinho naquele hospital. Ela foi internada e de repente chega o doutor Salvador com um médico para olhar nossa mãe. Vale dizer que ela já tinha o seu cardiologista, que era do hospital e referência na área. Este médico era o doutor Samuel, que foi olhar o pulmão.

Ficamos impressionados com o carinho e a dedicação. O jeito dele com uma paciente de mais idade e nada fácil. Mãe apaixonou com ele. Ela tinha problema de tireoide e de coração e, para cada um deles, tinha seu médico de confiança – excelentes profissionais, dos quais gostava muito também. Porém, gostou tanto do doutor Samuel e sentiu tanta confiança nele que largou todo mundo e ficou só com ele. Samuel Vianney é clínico e cardiologista, mas tem amplo conhecimento de todas as áreas. A cada consulta, ela levava uma cesta de verduras, legumes e ovos do sítio de presente para ele. Era muito engraçado.

Há 13 anos, ela teve novo edema, dessa vez duplo. Ficou internada muito tempo e deveria ter ido para o CTI, tamanha gravidade do quadro. Mas o doutor Samuel sabia que ela não aguentaria o CTI. Esse médico ficou mais de 24 horas na cabeceira da nossa mãe, largou tudo e todos, passou a noite ao lado dela, e só saiu para descansar ou atender outra pessoa (não sei) quando ela estava fora de perigo.

Depois ele disse que ela precisaria de uma cirurgia cardíaca, porque não resistiria a outro episódio desses. Ela estava com 82 anos, lúcida, dona de suas faculdades mentais. Minha mãe era mulher forte, decidida, mas ficou temerosa com essa cirurgia na idade em que estava. Acham que ela veio nos consultar, perguntar o que pensávamos a respeito? Que nada. Foi conversar com ele, e só concordou em fazer a operação porque ele estaria ao seu lado. Outro anjo a operou, doutor Figueiroa, e quando ela voltou da cirurgia, já na UTI, a primeira coisa que me perguntou foi “onde está o Samuel?”. Deu tudo certo.

Aos poucos, a família foi se tornando cliente dele. Qualquer problema difícil de diagnosticar, lá vamos nós. Primeiro foi meu sobrinho, depois meu irmão mais velho, minha cunhada, outros irmãos, mais sobrinhos. Hoje, minha mãe está com Alzheimer. Tem o seu neurologista, não se lembra mais do doutor Samuel –  para falar a verdade, nem de nós –, mas tudo o que precisamos para ela, qualquer coisa, é a ele que recorremos. É uma segurança saber que ainda existem médicos assim.

(Isabela Teixeira da Costa/Interina)








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