Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

"Por que mandar uma mensagem de WhatsApp de madrugada?"

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Sabe aquelas coisas rotineiras, quase imperceptíveis, que passam por você e te incomodam, mas você não fala nada? Aquelas, que muita gente, às vezes, nem percebe? Outro dia, passei a fazer uma lista delas. São coisas distintas, variadas, que não estão ligadas entre si.





Como estamos em época de campanha política e recebemos uma enxurrada de e-mails divulgando tudo que os candidatos e pretensos candidatos estão fazendo, comecei a lembrar da trajetória dos principais concorrentes e reparei que a maioria deles não tem família ao seu redor. Já repararam? Nada de irmão, irmã, primos apoiando, acompanhando. Nem pais, mas esses não podemos cobrar presença, que muitos já se foram dessa vida. Mas e os que ainda estão vivos? Por onde andam? Acho que essa ausência sinaliza alguma coisa, isso diz muito para nós. Está aí um dos pontos de incômodo que acende um enorme alerta em nós.

Outra coisa é a falta de noção das pessoas. Acredito que as pessoas esqueceram daquela máxima: o meu direito acaba quando começa o direito do outro. O ser humano perdeu o senso do que é urgência. Isso nasceu junto com o celular. As pessoas ligam e mandam mensagem para os outros a qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada. É claro que em caso de urgência tem que ligar mesmo, e duvido que alguém reclame disso, mas não entendo o motivo para ligar na sexta-feira à noite ou no sábado para tratar de uma questão profissional que só será resolvida na segunda-feira.

Por que mandar uma mensagem de WhatsApp de madrugada? Esquecem que quando ela é enviada gera um sinal sonoro? Aí você diz: “Por que não coloca seu celular no silencioso?”. Tive que fazer isso, mas tenho uma mãe, de 95 anos, que mora no sítio em Santa Luzia e preciso estar alerta para receber qualquer chamada urgente. Mesmo cadastrando os celulares das cuidadoras no “favoritos” do celular, vez ou outra elas usam outro número – é impressionante como conseguem ter várias linhas –, e tenho que ter o direito de manter meu celular ativo, sem sofrer esse tipo de incomodo. Concordam?

Mais um: por que brasileiro adora uma fila? Fui a uma festa junina e vi duas filas enormes nos caixas. Quando me aproximei, vi que tinha outro caixa, na lateral, completamente vazio. As pessoas veem uma fila e entram, sem nem mesmo procurar outra opção. Certa vez fui resolver um problema no Detran. Vi uma longa fila e decidi perguntar para o que era. Uma pessoa me respondeu e qual não foi a surpresa da que estava atrás, há mais de meia hora, achando que era para outra coisa completamente diferente. Viu a fila e entrou, sem perguntar, no “achômetro”.





Para finalizar, vou tocar em um ponto delicado: família e amizade. Fico cada dia mais impressionada em ver como as pessoas são egoístas e só olham para o próprio umbigo. Tudo é na base do “venha a nós, ao vosso reino, nada”. Tenho questionado muito as amizades de hoje. Aprendi que amigo é coisa rara, joia preciosa, que devemos saber preservar. São pessoas a quem nos enregamos, somos fieis e recebemos fidelidade. Estamos ao lado nos momentos alegres, tristes e de necessidade. Estamos juntos na doença.

Porém, o que estou vendo atualmente é que os amigos de hoje só estão junto enquanto é conveniente. Não querem saber se o amigo ou o parente estão precisando de alguma coisa, vivem dentro de seus interesses. Mas quando estão precisando, reclamam se não recebem presença e atenção. Pergunto, onde está a compaixão, o amor sincero de entrega, de estar com o amigo para o que der e vier?

(Isabela Teixeira da Costa/Interina)