Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Pósdromo: a ressaca da enxaqueca

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Quem sofre com enxaqueca sabe muito bem que, depois de um ou vários dias de crise com a forte dor de cabeça, elas finalmente acabam. É hora do alívio? Infelizmente, para muitas pessoas, não. Como ficar livre desse mal? 

Além de todo o suplício que conhecemos sobre os períodos de crises de enxaqueca, que parecem verdadeiras torturas e incluem sintomas como náuseas, irritabilidade com a luz, sons e cheiros, e resultam até mesmo em dias perdidos no trabalho, algumas pessoas ainda podem experimentar outros sintomas quando a crise finalmente termina. 





Embora esperem alívio, o que vem a seguir é chamado de pósdromo, ou ressaca da enxaqueca. “Essa é uma fase distinta da enxaqueca, que deixa os pacientes doloridos, cansados, atordoados e confusos, sintomas assustadoramente semelhantes a outra aflição. Os pacientes relatam que suas cabeças parecem ocas ou sentem que estão de ressaca e nem sequer beberam.

Esse problema é completamente correlacionado às crises de enxaqueca, e tratar as dores com cirurgia da enxaqueca é um método eficaz e respaldado pela ciência, além do uso de remédios e das sensações do pósdromo”, explica o cirurgião plástico Paolo Rubez, membro da Sociedade de Cirurgia de Enxaqueca (EUA) e um dos médicos que realiza o procedimento no Brasil.

Um trabalho de 2019, publicado na renomada revista Neurology,' destaca que esses sintomas acompanham até 80% das crises de enxaqueca. O pósdromo geralmente dura entre um e dois dias e os pacientes relatam alguns problemas, como uma “névoa” persistente com sensação de enjoo e exaustão. 





“Como se acredita que a enxaqueca aja como uma espécie de tempestade elétrica ativando neurônios no cérebro, é possível que a ressaca da enxaqueca resulte de alguns circuitos estarem esgotados eletricamente ou neuroquimicamente”, diz o médico. Para cessar esse problema é necessário tratar a raiz da questão: as dores da enxaqueca.

A cirurgia da enxaqueca, disponível no Brasil, é uma das formas mais eficientes de reduzir a intensidade, frequência e duração da enxaqueca, segundo revisão sistemática recente, publicada em fevereiro no Annals of Surgery. 

“Foram analisados 68 estudos que confirmaram os resultados e a segurança do procedimento, com baixíssimo índice de complicações e alto grau de satisfação dos pacientes. Apesar da disponibilidade de opções de tratamento conservador, as enxaquecas resistentes estão associadas a uma má qualidade de vida. A cirurgia da enxaqueca, definida como a descompressão dos nervos periféricos, uma ‘desativação’ nos locais do gatilho, é uma estratégia de tratamento relativamente nova, mas altamente respaldada pela ciência, para enxaquecas resistentes e refratárias”, explica o médico.





Um estudo da Harvard Medical School mostrou que a cirurgia de enxaqueca, além de melhorar os sintomas de dor de cabeça, também está associada a uma redução significativa no uso de medicamentos, principalmente no caso de pacientes que sofrem com dores crônicas e debilitantes.

Segundo o médico, essa cirurgia é realizada por diversos grupos de cirurgiões plásticos ao redor do mundo e em mais de uma dezena das principais universidades americanas. Os resultados positivos e semelhantes das publicações dos diferentes grupos comprovam a eficácia e a reprodutibilidade do tratamento.

Segundo o médico, a cirurgia age na descompressão operatória dos nervos periféricos na face, cabeça e pescoço para aliviar os sintomas da enxaqueca. É pouco invasiva e tem o objetivo de descomprimir e liberar os ramos dos nervos trigêmeo e occipital envolvidos nos pontos de dor.





“Os ramos periféricos desses nervos, responsáveis pela sensibilidade da face, pescoço e couro cabeludo, podem sofrer compressões das estruturas ao seu redor, como músculos, vasos, ossos e fáscias. Isso gera a liberação de substâncias responsáveis pela inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro, que causarão os sintomas de migrane”, diz o dr. Paolo.

Existem sete tipos principais da cirurgia, nas seguintes regiões: frontal, rinogênico, temporal e occipital (nuca). Cada uma foi desenvolvida para gerar a menor alteração possível na fisiologia local. A cirurgia pode ser feita em qualquer paciente que tenha diagnóstico de migrânea (enxaqueca) feito por um neurologista, que sofra com duas ou mais crises severas de dor por mês; ou em pacientes que sofram com efeitos colaterais das medicações; ou em pacientes que têm grande comprometimento em sua vida pessoal e profissional.

Isabela Teixeira da Costa/interina