Comecei a trabalhar no jornal em 1976. Era uma adolescente de 16 anos. Fui transferida para a Redação em 1981 e uma das primeiras coisas que fiquei sabendo é que havia um acordo verbal entre a imprensa de não noticiar suicídios para não encorajar suicidas em potencial a cometerem o ato. E foi assim até maio de 2017, quando o jogo de internet Baleia Azul deflagrou um grande número de suicídios entre jovens. A última etapa do jogo sugeria tirar a própria vida. Não foi possível se calar diante disso e, desde então, o suicídio passou a ter lugar no jornalismo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 milhão de pessoas tiram a própria vida ao redor do mundo todos os anos e, no Brasil, o suicídio é considerado a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Diante desse cenário, foi criado o Setembro Amarelo, uma campanha que busca dar visibilidade a discussões importantes sobre a prevenção do suicídio, suas principais causas e as formas de prevenção.
A prevenção do suicídio passa por questões como a informação e a atenção aos detalhes. Fomentar a discussão sobre o tema, consequências e prevenção, a partir da percepção da dor do outro e da ampliação do diálogo. Sempre atento aos sinais de risco, como depressão, dependência de substâncias psicoativas, perturbações de personalidade, isolamento, alcoolismo, desleixo com a aparência, desânimo, disfuncionalidade no seio familiar e tristeza profunda, entre outros.
Além disso, falar a respeito com muita responsabilidade e afeto ao próximo é sempre necessário para que se dê a devida importância a possíveis contextos que poderiam culminar neste tipo de atitude. Os cuidados sobre saúde mental devem ser evidenciados. Não devemos ter medo de tocar no assunto. O tabu deve ser derrubado e os fatores de proteção aumentados. É preciso incentivar a pessoa a buscar ajuda e também seguir o tratamento adequado para fortalecer sua autoestima e o amor-próprio. É preciso acolher, permitindo que o outro se sinta à vontade para expressar suas emoções. É preciso estimular a fala consciente e sem julgamentos por meio de uma escuta ativa e afetuosa, promovida por uma rede de apoio estruturada.
Cuidar da saúde mental promove a qualidade de vida e torna o indivíduo mais forte diante das mais variadas situações e também pode ajudá-lo em quadros de transtornos psicológicos em que o mesmo tenha grande dificuldade de lidar com suas emoções e sentimentos. Além disso, não podemos esquecer que a busca por uma ajuda qualificada de um profissional de saúde mental auxilia no cuidado das dores emocionais. Empatia salva vidas.
As empresas têm um papel primordial na prevenção do suicídio, lembrando que, hoje, grande parte das doenças do trabalho deixaram de ser físicas e passaram a ser psicológicas. As áreas de recursos humanos precisam estar atentas e observar traços dessas doenças modernas, antes que eles evoluam e possam prejudicar o trabalho ou resultar no suicídio. Se não forem identificadas e tratadas doenças como transtorno de ansiedade, depressão, crise do pânico e síndrome de burnout, elas podem evoluir para o suicídio. Quais as principais causas? Esses problemas podem surgir a partir de grande competitividade no local de trabalho, pressão inadequada ou por ser a atividade exercida muito intensa, sujeita a riscos.
Para combater esses problemas, existem caminhos para as empresas, e um deles passa pela intensificação de ações relacionadas à medicina do trabalho que priorizem o bem-estar, como fazer grupos para vivenciamentos, onde se aprenda a lidar com situações e pessoas. Como esses problemas estão mais frequentes, um caminho é sempre repensar situações que podem originar esses males. Com melhores condições de trabalho e das relações profissionais com diminuição do isolamento. Pode ainda ser necessário ter ajuda médica, a psicoterapia também pode ajudar a compreender melhor as razões que levaram o colaborador a tal situação e a evitar procedimentos semelhantes no futuro.
(Isabela Teixeira da Costa/Interina)