Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Não podemos perder tempo. Acorde para vida

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Tem pessoas que estão paradas na vida, acomodadas e precisam apenas de um pequeno empurrão, um incentivo, para despertar e tomar uma atitude, mudando totalmente sua trajetória. Muitas vezes, damos esse empurrãozinho sem perceber.





Tenho um primo que é dentista. Não mora em Minas, mas esteve aqui para visitar a família e contou um caso muito bom. Todo mundo tem um certo medo de dentista. Aquela velha injeção para anestesiar, o incômodo barulho do motorzinho, que dá nos nervos, ficar horas de boca aberta sofrendo por antecipação, esperando uma possível dor. Enfim, é um sofrimento.

Claro que a odontologia já passou por alguns avanços. Temos o implante dentário, que é maravilhoso, e já inventaram, inclusive, uma anestesia por inalação. Trata-se da sedação com óxido nitroso, que tem como objetivo eliminar progressivamente a ansiedade, o medo, aumentando a autoconfiança, além de causar sensação de relaxamento e bem-estar após a consulta, minimizando os fatores estressantes do tratamento tanto para o paciente quanto para o dentista. Essa técnica já é usada há mais de um século nos EUA por 50% dos consultórios em suas rotinas e principalmente em cirurgias ou na atuação da odontopediatria praticamente. Aqui no Brasil, ela é pouco difundida e utilizada por poucos médicos e dentistas.

Acredito que é por causa de todo esse medo que os pacientes sentem que os dentistas desenvolveram um jeito próprio para lidar com a gente, sempre fazendo brincadeiras, respeitosas, mas para quebrar o gelo e a tensão nervosa.





Há muitos anos, me contou meu primo, ele tinha uma paciente jovem, mas extremamente careta, travada. Usava roupa que a envelhecia, usava coque, era séria demais. No tratamento, para tentar descontraí-la, ele brincou que tinha visto um sujo no dente e que deveria ser um restinho de maconha.

Ela ficou indignada, na mesma hora disse que jamais seria, que nunca tinha usado nenhum tipo de droga e nem cigarro tradicional. Ele disse que estava brincando, mas que ela deveria usar. E o assunto morreu ali. Ele terminou o tratamento e ela foi embora.

Anos depois, entrou uma paciente linda, toda moderna, tatuada, com uma roupa colorida, jovem, descontraída, sorrindo, com cabelo solto, cheio de enfeites e, quando ele viu o nome, para sua surpresa, era ela. Não teve dúvidas, perguntou o que aconteceu. Ela olhou bem dentro de seus olhos e disse: “Doutor, suas palavras foram um mosaico de alegria na minha vida, eu nunca imaginei que tivesse tanta coisa bonita dentro de mim”.





Não estou dizendo aqui que ela fumou maconha, absolutamente, nem sabemos se isso aconteceu, mas aquela fala de seu dentista mostrou a ela que deveria ver a vida de uma outra maneira, com outros olhos, de uma forma mais leve. Que era preciso deixar a austeridade de lado e viver a sua idade, com toda a leveza que lhe é devida.

Essa jovem fez jornalismo, trilhou uma carreira brilhante, atuou em importantes coberturas contra a corrupção em nosso país. Descobriu a leveza do ser, a importância de ser feliz, o direito de fazer as coisas que tinha vontade e sentia que podia. Tudo isso por causa e uma brincadeira despretensiosa em um consultório de dentista.

Não podemos perder tempo. A vida é curta demais. Não espere por uma cutucada de alguém, desperte por você mesmo. Acorde para vida.

(Isabela Teixeira da Costa/Interina)