Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Vem aí a nova geração de estilistas japoneses

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Estilistas do Japão balançaram o coreto da moda internacional nas décadas de 1970 e 1980. Kenzo Takada, Issey Miyake, Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo, entre outros, se tornaram sinônimo de vanguarda, transgressão e ousadia. Kenzo foi o primeiro a “estourar” comercialmente, chamando a atenção de Paris e, a partir de lá, do mundo inteiro para a revolução estética japonesa.





Fizeram (e ainda fazem) história as cores e estampas de Kenzo, a assimetria e o minimalismo das roupas de Yamamoto, as blusas sem uma das mangas de Rei Kawakubo (leia-se Comme des Garçons), os figurinos de Kansai para o icônico Ziggy Stardust, de David Bowie.

O que dizer das sobreposições de Issey Miyake, o criador do suéter preto de gola alta que se tornou marca registrada de Steve Jobs?

Kenzo morreu em outubro de 2020, aos 81 anos, de COVID-19. Issey Miyake se foi em agosto passado, aos 84, depois de lutar contra um câncer no fígado. Especialistas acreditam que a morte da dupla marcou o fim de uma era. Não é bem assim... Yohji Yamamoto, de 79, e Rei Kawakubo, de 80, mantêm viva a geração de ouro.

Natsuko Fukue, jornalista da Agence France-Presse, manda boas-novas de Tóquio, revelando que vem por aí nova safra de talentos japoneses.

Um deles é Takuya Morikawa, de 40, cujas peças elegantes inspiradas no streetwear estrearam nas passarelas de Paris há dois anos. Em 2013, ele lançou a marca TAAKK.





Discípulo de Issey Miyake, com quem trabalhou na linha Pleats Please (Pregas, por favor), Morikawa tem estimulado jovens criadores de seu país a manter o legado dos mestres.

A estilista Mariko Nakayama, que trabalha em Tóquio e planeja apresentar sua marca na França, revela a Natsuko Fukue que ficou “arrepiada” ao usar Comme des Garçons pela primeira vez. Porém, observa que a indústria está diferente.

“Ao observar Virgil Abloh para a Louis Vuitton, por exemplo, tenho a impressão de que entramos na 'era da edição', na qual os designers trazem toques modernos para formas e motivos clássicos”, comenta.

Trabalhar em Paris, Londres, Nova York ou Milão sempre foi considerado a chave do sucesso para os criadores japoneses, diz Aya Takeshima, que estudou na Central Saint Martins, prestigiosa escola de moda na capital britânica.





Essa experiência lhe permitiu ter diferentes perspectivas: “No Japão, a técnica é incutida desde o início, enquanto as ideias e conceitos são secundários. Em Londres, é o contrário”.

Cabe à nova geração reinventar o diálogo entre Oriente e Ocidente, assim como fizeram os mestres setentistas.

A prestigiada Bunka, escola de moda que funciona em Tóquio, vai completar 100 anos em 2023 e não pretende ficar presa a glórias do passado. Consciente da necessidade de se abrir ao mundo dos alunos, planeja oferecer a eles bolsas de estudos no exterior.

Estudante da Bunka, Natalia Satoo, de 21, diz que Miyake e a velha-guarda levaram “valores japoneses e orientais para o mundo”, incluindo técnicas inspiradas no rico e sutil artesanato tradicional do Japão.

“Me preocupa que as bases que eles construíram possam ser destruídas”, confessa a jovem. Mas ela chama a atenção para a necessidade de avançar rumo a um “ponto de virada”, capaz de oferecer “novas oportunidades criativas”.

Se depender dos herdeiros do legado de Kenzo e Issey Miyake, nova “ocupação” japonesa vem por aí. Como diz a canção de Chico Buarque, evoé, jovens à vista!