Com os avanços tecnológicos e as novas necessidades de mercado, cada vez mais os indivíduos utilizam dispositivos como computadores e celulares em sua rotina, seja no ambiente de trabalho ou na vida pessoal. Mas já é sabido que o uso exagerado pode causar impactos na saúde física e mental. Nesse cenário de população hiperconectada, surgiu um novo termo na psicologia: nomofobia.
De acordo com Sara Silva, professora de psicologia do Centro Universitário Braz Cubas, nomofobia faz referência às sensações observadas “no modo off-line”, ou seja, a desconexão ou o medo dela. A partir disso, as pessoas passam a sentir ansiedade, desconforto, nervosismo, angústia e pânico, além de sintomas físicos como aperto no peito, taquicardia e suor frio.
Outro dia, vi minha sobrinha-neta, pré-adolescente, em uma cena inimaginável para mim: ela estava em frente à gigantesca TV jogando um game que parecia partida de futebol de verdade, enquanto em seu celular passava uma série. Ela estava em frente de duas telas, vendo e fazendo coisas diferentes.
Como o cérebro consegue absorver tudo isso junto, não sei. E muito menos o que isso pode causar aos jovens. O bom é que ela não sente nada quando fica out das conexões. Isso não é raro, porque, leitora contumaz, sempre está com um livro na mão, a ponto de surpreender as pessoas.
A psicóloga explica que ainda é difícil definir as causas e os efeitos da nomofobia. No momento, parece ser a combinação de fatores como baixa autoestima, nível elevado de ansiedade e impulsividade.
Sara elenca sinais de alerta: sempre há um dispositivo para recarregar a bateria; monitoramento constante do aparelho para verificação de notificações; celular sempre ligado, inclusive em momentos não oportunos como estar na cama próximo à pessoa quando ela vai dormir. Se o celular fica inutilizável por qualquer razão, surgem ansiedade, angústia e nervosismo. Há o medo de ficar sem conexão. E o celular é o primeiro e último instrumento que a pessoa acessa. Além disso, ela limita suas atividades a locais onde conseguirá ficar conectada.
A nomofobia se enquadra nos critérios do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) relativos à fobia por coisas particulares e específicas. Os sintomas de dependência patológica são identificados quando há nervosismo, agitação, ansiedade, taquicardia, angústia e sudorese, além do medo que afeta a saúde e o dia a dia da pessoa.
Fui a uma loja de conserto de celulares comprar um cabo e encontrei uma cliente desesperada porque seu aparelho havia “morrido”. Era fim de tarde e ele só seria consertado no dia seguinte. Tensa, ela não sabia como ficaria até lá, pois tinha de dar alguns telefonemas e fazer coisas que exigiam o celular.
Muito tranquila, respondi: “Você vai poder descansar uma noite”. Ela me olhou de um jeito que parecia querer me fuzilar, mas não tinha o que fazer, pois o que não tem solução solucionado está.
Para auxiliar as pessoas dependentes do celular, a professora Sara Silva dá dicas para reduzir o uso do aparelho: limitar o uso do aparelho, principalmente antes de dormir e ao acordar; não usá-lo durante a alimentação; manter mais contato com o mundo presencial e se encontrar com as pessoas sem usar as tecnologias nesses momentos. Quando necessário, buscar ajuda especializada com psicólogo e psiquiatra.
Sara reforça que são inegáveis os benefícios da tecnologia. Contudo, é necessário equilibrar seu uso para preservar a saúde.
“Não podemos lidar com a tecnologia como extensão de cada um. Por isso, o uso consciente e responsável se faz necessário, principalmente nestes tempos de pós-pandemia”, pontua.