Estava bem, sem problemas, numa quarta-feira, 11 de maio, com apenas dois compromissos: ir ao LG, salão de beleza de Laura Nunes, para cuidar das unhas, e comparecer à consulta com meu médico de diabetes, Walter Caixeta. Como o carro estava na oficina, fui de táxi. Em lugar de pedir ao motorista para me deixar na entrada do salão, resolvi descer em frente. E foi esta simples mudança que me colocou meses e meses doente.
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Burnout e cansaço castigam o trabalhador; aprenda a lidar com elesTecnologia do sono ajuda a enfrentar danos de noites mal dormidasSUS vai oferecer novo e eficaz tratamento para o AVCBazar Tecendo Sonhos estará aberto nesta quarta (9/11), no FuncionáriosNão entendo a meninada atual. Sou do tempo da infância na ruaEvitei a prisão do meu marido nos tempos da terrível censuraDo tempo que fiquei em casa, resta uma certeza: a TV é grande companheiraMinha coluna sã, à base de coletes e cimentoComeçou aí minha entrada no surpreendente desgaste físico e mental que provoca uma queda tão comum. Já no dia seguinte, comecei a sentir algumas dores, creditadas à queda. Fui levando normalmente, até que, umas duas semanas depois, pedi socorro a Henrique Salvador, que me recomendou um especialista em ortopedia e traumatologia.
Apesar de ser noite de sábado, telefonei para o nome que ele me deu, mas não podia me atender – estava fora do país. Então, me passou o telefone de seu substituto, que, numa gentileza única, saiu de Contagem, onde passava o fim de semana com a família, e veio me atender. Em casa, informalmente.
Examinou o local da queixa da dor maior e, com razão, disse que não podia fazer nada sem ver a ressonância magnética do local. Na segunda-feira, baixei cedo no Mater Dei e o exame mostrou a vilã da dor. Havia uma fratura da plataforma superior do corpo vertebral na vértebra T11 e extensão no muro superior, com leve propulsão óssea comprimindo o saco dural e tocando levemente a face ventral da medula subjacente.
Dá para ver que copiei parte do texto explicativo da ressonância, mas, trocando em miúdos, a queda tinha levado minha espinha dorsal pro brejo. Se entrasse em minha medula, nem sei o que poderia acontecer. Como, aliás, não sei até hoje.
De qualquer forma, a recomendação de todos os médicos que me acompanharam era uma só: buscar, por meio do uso de um colete especial, repouso e de não trabalhar pelo menos por 90 dias, manter o tronco sem movimento. Quer dizer, a coluna vertebral comanda a vida, sem muito auê. A não ser muita dor. E, no meu caso, aparentemente sem uma gota de sangue.
Fotografaram a coluna várias vezes para pesquisar se havia retrocesso ali, a cabeça ficava de fora. Até que, certo dia, um daqueles vários médicos que me atendiam resolveu pedir uma geral da cabeça. Foi quando se descobriu que do lado direito, bem na frente e sem nenhum volume exterior, havia uma pequena linha de sangue. O outro ponto que me afligia, porque se as costas doíam sem parar, a fala estava igual à de alguém irracional. Falava tudo, mas a maioria das coisas sem pé nem cabeça.
Eu não entendia muito a dor que sentia no braço, nem o palavreado sem nexo. Até que num dos fins de semana que passava em casa, estava com uns primos na sala quando comecei a contorcer a boca e falar pelos cocos. Por sorte, meu sobrinho médico estava lá e diagnosticou logo a cena – eu estava tendo uma convulsão.
Me levaram bem depressa para o hospital, onde o neurologista confirmou o diagnóstico do meu sobrinho. E receitou o medicamento que devo tomar durante algum tempo, para que a convulsão não se repita. De certa forma, ela chegou em boa hora – meu braço parou de doer e o raciocínio lógico, que tinha sumido, voltou.
A cabeça voltou a funcionar como sempre, mas o medicamento me dá uma certa tonteira, principalmente de manhã. Ela não vai me vencer, não posso acreditar que uma vértebra quebrada quebre também o cérebro, a percepção da vida.