Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Do tempo que fiquei em casa, resta uma certeza: a TV é grande companheira

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Anna Marina


Os leitores que me perdoem, mas depois de tantos meses fora desta página, volto ao assunto do tombo com uma certeza: é realmente cruel uma pessoa ficar em casa aparentemente saudável, vendo a vida passar. De todos os meses que fiquei em casa, resta uma certeza: a televisão é realmente uma grande companheira. E como o meu senso crítico estava ativo, fiquei imaginando se as pessoas não conseguem aproveitar essa realidade para fazer alguma coisa melhor.



Como não podia sair – só ia ao Mater Dei –,  passava o tempo vendo tevê.  Fiquei imaginando a razão de o espectador não ser respeitado. Começando pelos programas de notícias que repetem as mesmas notícias por três vezes ou mais. O noticiário “novo” começa pela tarde e vai sendo repetido pelo início da noite e pela manhã do dia seguinte vezes sem conta. É claro que a intenção é oferecer a possibilidade de todos terem acesso ao que é divulgado. Mas que é uma canseira, não deixa de ser.

Em todo esse tempo, o que mais gostava de assistir era a Jovem Pan, cujo programa “Os pingos nos is” não deixa nada passar em branco. Tanto definiam as situações pré-eleitorais que acabaram por receber uma censura prévia. Mas, na realidade, o que os participantes comentavam era apenas o que os brasileiros em geral pensavam e tinham vontade de divulgar se tivessem possibilidade.

Outro lance curioso que me chamou a atenção, e que nunca havia percebido, é que o texto falado pelos apresentadores parece sempre com uma conversa caseira, entre amigos. A maioria das notícias começa com um “gente”. Acredito até que isso aconteça com a intenção de tornar os textos mais simples, mais coloquiais. Facilitando o contato entre o noticiário e o telespectador. Não foi uma época fácil por causa do período eleitoral e a canseira começou com a morte da rainha da Inglaterra, com aquele enterro que ocupou dias e mais dias do noticiário. Realmente outra canseira para o telespectador, não dá para entender isso em pleno século 21.



E vendo tanta televisão, dá para ver que longe vai o tempo em que suas figuras femininas serviam como amostra de tendência de moda. No geral, parece que todas passaram pelo mesmo produtor, cabelos compridos, jogados para um lado e roupas como uniforme: camisas ou blusas combinando, nem sempre, com pantalonas. Correndo por fora uma figura de jornal falado, acho que de BH, que faz não só questão de mostrar que está grávida, como reforça a imagem com o traseiro também grávido. Como a roupagem é repetida, não dá para entender que ela não se veja depois e procure acabar com a gravidez traseira.

Os filmes são outra proposta difícil de aceitar. Parece que a tônica da época seja filme de terror, e é o que mais aparece em todos os canais. Quem não gosta desse tipo de distração, não tem muito a escolher. Fico sempre com o canal Universal, que tem uma série sobre polícia, bombeiros e médicos de Chicago, repetida sem dó nem piedade. Já sei a maioria deles de cor, o que no meu caso e na época que enfrentava é uma proposta boa, porque o sono vem mais depressa e pode ser encarado sem remorso. Fora das histórias, o que atrai é a amizade entre todos, não existe traição, mas colaboração, companheirismo.

Programa de gastronomia é sempre uma boa distração, mas quem não pode pegar as receitas depois, pelo celular, leva ferro porque a maioria dos chefs apenas balbuciam o nome dos ingredientes. E como a maioria é importada, quem não tem celular deve se conformar. Então, fico imaginando se não daria para colocar na tela, na medida em que são usados, os nomes dos ingredientes. Tenho certeza que isso ajudaria muita gente. Eu, inclusive, já se vê. Descobri programas de viagem muito bons, no canal 44, que mostra cidades do mundo inteiro. Pena que não mostrem o interior dos monumentos, como igreja e castelos.



Uma curiosidade é que a queda derrubou bastante minha concentração. Então, dias e dias que poderiam ser usados para ler, não vingaram. Não conseguia ler, não tinha interesse nenhum no que lia. Não porque o conteúdo dos livros não fosse bom, mas aquela pequena nata de sangue que ficou na minha cabeça, e que provocou a convulsão, parece ter impedido meu interesse pela leitura. Pela graça de Deus, voltei a ter o mesmo interesse pelos livros – bons – que sempre tive e que são os companheiros mais fiéis à necessidade de companhia e conformação. Assim foi feito e, atualmente, tenho uma “linha” de cimento firmando e dando garantia à minha coluna.