Sou de um tempo em que a infância era passada na rua. As famílias conviviam muito, o que não acontece atualmente. Resultado: uma parte de minha infância foi de brincadeiras masculinas. Jogava futebol (era sempre a goleira, porque não tinha força suficiente para chutar as bolas), e o campo era na Avenida do Contorno, onde existe hoje um hotel.
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Uma queda me derrubou e aprendi: a coluna vertebral comanda a vida da genteMinha coluna sã, à base de coletes e cimentoDo tempo que fiquei em casa, resta uma certeza: a TV é grande companheiraGrifes nordestinas chamam a atenção do mundo com criações artesanaisA Bandeira do Brasil, finalmente, está em evidênciaLer as bulas dos remédios é um hábito recomendável e que revela surpresasO tempo passava numa boa, as amizades eram duradouras, as lembranças ficavam para sempre. Tenho saudades do tempo em que subia em árvore ou muro com a maior facilidade para roubar frutas na casa do vizinho.
Na parte da infância que passei em Santa Luzia, os dias de chuva eram ótimos. Fazíamos barquinhos e mais barquinhos de papel para colocar na correnteza que descia junto aos passeios, os que conseguiam chegar mais longe eram os vencedores.
Quando fiquei maior, a alegria era andar de patins, brincadeira rara e cara, porque os patins melhores vinham dos Estados Unidos.
Tenho muita saudade daquelas brincadeiras, memórias de infância que, muitas vezes, ajudam a passar a noite sem sono.
É por isso mesmo que custo a entender – ou melhor, não entendo – a meninada atual. Tenho sobrinhos pequenos, mas a vida deles se restringe ao celular ou ao tablet. Todos, sem exceção, passam o tempo de olho nas telas, que mostram sempre as mesmas brincadeiras. Nenhum sabe pular corda ou soltar papagaio – já cansei de comprar no mercado aquela engenhoca com linha para prender o brinquedo. A única coisa que um ou outro sabe é jogar futebol, porque algumas escolas têm aulas de ginástica ou exercícios físicos.
Quando esses meninos aparecem, é pura perda de tempo tentar que se interessem por algumas daquelas brincadeiras antigas. Como não tenho filhos, escuto das mães que esse tipo de distração para crianças não se usa mais. No que elas têm razão, porque a maioria sabe coisas que não sei e não consigo aprender, como nomes em inglês para isso ou aquilo. Ou como se faz isso ou aquilo com celular.
A geração delas é outra e quando crescerem mais vão certamente saber coisas que nunca imaginei que pudessem interessar às crianças.
Até os planos para conhecer o mundo são diferentes. Durante muito tempo, quando a televisão mostrava cenas dos Emirados Árabes, a maioria queria ir para Dubai, onde estavam aqueles carros dourados, aqueles prédios altíssimos, desafiando a imaginação de um ou outro. Os sonhos de carreira de alguns iam para a arquitetura, queriam projetar aqueles prédios.
Atualmente, como a divulgação dessas riquezas que agradam principalmente aos “novos ricos” – “vou passar minhas férias no Burg Al Arab” – desapareceu da TV, parece que a Disney voltou a ser o projeto de viagem da meninada. A mudança não deixa de ser um descanso para os pais.
Alguns conseguem até proibir que os filhos passem o tempo todo de olho no celular. Só podem se ocupar com ele nos fins de semana, depois do período escolar.