Meu ideal de consumo quando entrei para o Diário da Tarde era ter um carro. Isso porque muitas vezes o fechamento do jornal acabava tarde e eu tinha de pegar o bonde na Rua da Bahia e depois, no fim da linha, subir a Rua Leopoldina altas horas. Sozinha. Bom é que a cidade era calma. Lá pelas tantas, alguém resolveu me ajudar e recomendou uma escola de direção para eu aprender.
A escola tinha um Jeep caindo aos pedaços, a mudança das marchas era feita com uma peça de metal comprida, que sempre parecia que ia soltar. As aulas eram dadas, com frequência, onde atualmente construíram a Igreja de Fátima. Fui levando até que cansei e parei . Saí de férias e, quando voltei, tive uma baita surpresa. Estava numa lista em que o Banco Nacional estava fornecendo empréstimo para que 30 jornalistas – que se interessassem – comprassem um Volks. Foi uma dobradinha bem legal feita com a Mila, de Moacir Carvalho de Oliveira.
Naquele tempo, a redação do DT era formada por um grupo de colegas , todos conviviam, todos eram amigos. Quando os carros começaram a chegar, foi uma glória e um mundo de doideiras. Alguns buscavam o carro na representante, que ficava naquela avenida que vai para a Pampulha, e, em lugar de seguir a avenida buscando um retorno, achavam que podiam subir no canteiro do lado e sair em direção ao Centro. Não foram poucos os Volks que, mal saíam da representante já tinham que voltar para consertar os problemas. Eu, com minhas aulas de Jeep, não sabia dar marcha a ré.
Como na época ajudava Múcio Athaide na construção do PIC, ia toda bacana de carro para o Centro. Quando havia vagas na Afonso Pena, parava entre um carro e outro e era só sair em frente, estava salva. Quando tinha de parar em frente a uma árvore, aí que estava criada a confusão. A ré não funcionava por nada no mundo. Então, ficava dentro do carro esperando algum motorista dos carros ao lado que me salvasse. Eles salvavam e não acreditavam como uma motorista parava em plena Afonso Pena sem saber dar marcha a ré.
Foi então que aproveitei a chance de meu amigo Hermógenes Ladeira trabalhar no Trânsito, onde seu tio era diretor, para tirar minha carteira. Ele deu uma volta comigo pelo Centro, por ruas com pouco movimento, e fui premiada com a mesma carteira que tenho há 60 anos, sem nunca dar uma trombada. Agora, enfrento uma desgraça nova, resultado da queda na qual quebrei minha costela: estou proibida de dirigir. O carro está na garagem e a tentação é grande. Mas evito sair guiando por aí. E como não gosto de ter motorista, tenho andado de táxi.