Doença de homem, a gota livra a mulher de uma série de chaturas. Quem explica como ela funciona é o reumatologista Marco Antônio Araújo da Rocha Loures:
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Diariamente, o ser humano ingere alimentos que contêm proteína, que metabolizam a purina. O resultado da metabolização dessa substância é o ácido úrico. Esse procedimento não apresenta riscos quando a quantidade de ácido úrico é mínima (dentro dos padrões) e ele é excretado, contando com o bom funcionamento dos rins, que o eliminação via urina. O problema ocorre quando há excesso e cristalização de ácido úrico.
A gota é resultado do acúmulo de ácido úrico dentro da articulação. Ou o corpo produz a substância em quantidades demasiadamente altas, ou não consegue excretá-la o suficiente para manter o organismo saudável.
Ocorre por conta do acúmulo e cristalização do ácido úrico nas articulações, o que se dá em paralelo com o aumento da substância no sangue (hiperuricemia).
Muitos pacientes de hiperuricemia não apresentam complicações da formação de cristais de urato, como artrites ou cálculo renal. São as hiperuricemias assintomáticas. Porém, esses pacientes apresentam maiores riscos de hipertensão arterial, insuficiência renal e doenças cardiovasculares.
A gota articular costuma acometer pacientes masculinos, começando na quarta ou quinta década de vida, na forma de artrites agudas intermitentes, acometendo as articulações dos pés.
As crises agudas evoluem rapidamente com dor intensa e eritema local, com grande hipersensibilidade ao toque. Essas primeiras crises respondem bem aos chamados anti-inflamatórios. Segue um período assintomático que pode durar meses.
Caso a doença não seja tratada adequadamente, as crises tendem a ser mais frequentes e prolongadas, levando a um quadro crônico e progressivo, com sequelas e deformidades. Nessa fase começam a aparecer os depósitos de urato denominados tofos, que podem ocorrer em qualquer lugar do corpo, mas são mais comuns em torno das articulações e notadamente em cotovelos.
Durante as crises agudas de gota, os exames medem a inflamação e se estão elevadas a hemossedimentação e a proteína C reativa.
Durante a crise aguda de gota, o paciente deve ser orientado a identificar os primeiros sinais e sintomas e imediatamente iniciar seu tratamento, preferencialmente nas primeiras 24 horas, sempre com orientação do reumatologista. Repouso relativo, evitando toda e qualquer sobrecarga que aumente a dor na região acometida e compressas com gelo local são medidas que auxiliam.
Para o tratamento farmacológico utilizam-se os anti-inflamatórios não hormonais, colchicina ou corticosteroides (intramuscular ou intra-articular). Os anti-inflamatórios não hormonais não podem ser utilizados em pacientes com comprometimento renal, e mesmo pacientes que não tenham esse comprometimento devem ser acompanhados periodicamente para não desenvolver insuficiência renal.
O controle adequado da hiperuricemia é a melhor forma de prevenção de novas crises agudas. Dieta hipocalórica, com baixo teor de proteínas e redução no consumo de álcool, refrigerantes e bebidas energéticas com alto teor de frutose. O tratamento sempre é individualizado, controlando as comorbidades que cada paciente pode apresentar, como hipertensão arterial, diabetes, insuficiência renal, obesidade, distúrbios metabólicos e cardiovasculares.
Medicamentos chamados uricoredutores estão indicados para pacientes que apresentem tofos, dano articular radiográfico, duas ou mais crises de gota aguda em um ano. Esses casos são mais graves e a medicação tem que ser reajustada periodicamente pelo reumatologista. Em pacientes com hiperuricemia assintomática não é recomendado o uso de uricoredutores.”