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ANNA MARINA

Gagueira não tem graça, tem tratamento

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Motivo frequente de bullying, os impactos na vida social de alguém que tem gagueira são inúmeros e muitas vezes são responsáveis por agravar o quadro, já que situações de estresse, medos, insegurança, irritação e excitações podem acentuar o transtorno.





A gagueira é caracterizada como uma alteração, singularizada pela ruptura do ritmo (fluência) da fala que causa repetição de sílabas e pausas longas entre as palavras. 

Estudos científicos dividem a gagueira em dois tipos comuns: a adquirida e a do desenvolvimento – sendo esta segunda a mais frequente em crianças.

De acordo com a fonoaudióloga Camilla Guarnieri, doutora pela USP em transtornos da fala e linguagem em crianças, a gagueira do desenvolvimento é comum em crianças de 2 a 5 anos. Surge nas etapas iniciais de aquisição e desenvolvimento da fala e da linguagem e é idiopática, isto é, não tem nenhum motivo aparente. Essa gagueira pode ou não ser persistente e tal característica indica a necessidade maior de intervenção fonoaudiológica.

Embora os especialistas ainda não tenham chegado a um consenso sobre a causa da gagueira, há muitos estudos sobre o tema, com diversos avanços relacionados ao transtorno. Além das pesquisas que apresentam indícios de um componente genético, também existem linhas científicas que mostram indicativos de dificuldades motoras e/ou no processamento auditivo que podem ser a causa dessa ruptura na fluidez da fala.





Já outras investigações mostram ainda que questões ambientais e psicológicas podem agravar a gagueira. Por essas razões, o meio científico opta por falar da questão multifatorial que pode influenciar na gagueira, englobando assim todos esses fatores que interferem nela.

Ainda que o distúrbio não tenha um fator de causa determinante, a gagueira tem, sim, tratamento, e o fonoaudiólogo é o profissional responsável por esse tratamento. A intervenção fonoaudiológica precisa ser específica para a promoção da fluência da fala, e a duração desse processo, bem como a fluência da fala ao final do tratamento, vai depender de uma série de fatores, como, por exemplo, o grau da gagueira, se a intervenção foi precoce ou tardia, etc.

De acordo com Camilla, é muito importante uma terapia individualizada e baseada em evidências científicas. Assim, o fonoaudiólogo consegue indicar, planejar e aplicar as melhores técnicas de terapia para aquela criança em específico. “É muito importante os pais participarem de todo esse processo, a transparência é fundamental para o tratamento. É necessário entender o que vai ser avaliado, o motivo, como, os resultados dessa avaliação, o que isso significa, qual o melhor tratamento para aquela criança, como ele vai acontecer, o que esperar, como os pais vão ajudar em casa... Tudo isso tem que ser muito bem conversado, porque não existe receita de bolo, mas sim todo um raciocínio por trás das dificuldades de cada criança e a participação ativa dos pais durante todo esse processo faz toda a diferença no final”, explica a especialista.





Vale ressaltar que, mesmo uma criança com gagueira há um tempo, é possível iniciar uma intervenção eficaz, porém como não há idade mínima para iniciar o tratamento, o mais indicado é que comece o quanto antes. Uma intervenção precoce tem maiores chances de se obter êxito em seus resultados e, consequentemente, menores serão os prejuízos na vida da pessoa. O fonoaudiólogo vai adaptar todo esse tratamento para o nível de desenvolvimento da criança e fará com que isso seja conduzido de uma forma lúdica e prazerosa para obter a colaboração da mesma.

A gagueira deve ser levada a sério e precisa de tratamento por conta dos impactos negativos que ela pode proporcionar na vida de uma pessoa. O maior deles é observado no âmbito social, no qual muitas crianças acabam sofrendo bullying e têm vergonha ou até mesmo dificuldade em se comunicar.

Isso afeta a vida social delas, trazendo abalos psicológicos, acadêmicos e profissionais, que prejudicam a longo prazo com a gagueira. É a famosa frase: “Gagueira não tem graça, tem tratamento!”. Portanto, ao notar que uma criança está gaguejando, não hesite em buscar uma avaliação profissional especializada com um fonoaudiólogo capacitado.