Sobrevivente que sou de dois cânceres que matam muita gente – na mama e no intestino –, ambos tratados no Mater Dei com absoluto sucesso por Henrique Salvador e Marcus Martins, aproveito ser hoje o Dia Mundial de Combate ao Câncer para tocar no assunto, porque recebi um e-mail da neuropsicóloga Leninha Espírito Santo Wagner abordando o que sempre achei e professei: quem tem câncer deve falar sem restrições sobre a doença. A saúde mental é tão importante quanto o tratamento.
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Não tive a menor sequela e passei em branco sobre preocupação mental sobre o câncer. Alguns anos depois, o danado voltou no intestino. Queria ser operada, mas pedi ao Marcus: se fosse preciso fazer colostomia, que deixasse o tumor lá. Não suportaria ficar com aquela bolsa externa, para isso eu não tinha força mental.
Não foi preciso. Ele me recomendou a quimioterapia, que era aplicada em minha casa, uma trabalheira só. Não me dei bem com esse tratamento, fui parar no Mater Dei para não morrer em casa. Não morri, mas também não quis mais me submeter à químio.
Preocupado, o doutor Salvador me deu um prazo para recomeçar a químio. Não quis. E estou aqui, falando para quem quiser ler, sobre minha experiência, que não foi pouco, mas também não foi traumatizante.
Por isso, resolvi transcrever o e-mail da neuropsicóloga, pois o acompanhamento psicológico pode ajudar a enfrentar os momentos desafiadores do tratamento. Apoio mental é recomendado aos familiares e amigos do paciente, diz ela.
“O tratamento de uma doença grave como o câncer nunca deve ser só físico. Parte da luta pela cura está no apoio psicológico que pacientes e familiares precisam receber para lidar com os desafios do tratamento médico. Neste Dia Mundial de Combate ao Câncer, especialistas ressaltam a importância do atendimento psicológico nesta jornada.”
“Sem saúde mental não pode haver saúde alguma”, alerta Leninha. “Há quem tenha estrutura mental forte, inabalável, mas há quem tenha estrutura mais fragilizada. Diante da notícia do diagnóstico da doença, ainda que não seja consigo, há pessoas que ficam tão abaladas que se abrem a quadros de doenças mentais”, ressalta a neuropsicóloga.
Para Leninha Espírito Santo Wagner, além do atendimento ao paciente, as pessoas diretamente ligadas à situação devem buscar ajuda. “Todo o sistema familiar envolvido, bem como o comboio social mais próximo, se tornam a rede de apoio para o paciente no processo do diagnóstico, cirurgia, pós-cirúrgico e tratamento.
Não raro, a depender da idade, dos vínculos emocionais, do registro da subjetividade ou dos traços de personalidade, o pai, a mãe, o marido, a esposa, um dos filhos ou mesmo um amigo muito próximo fica mais alterado e precisa de mais apoio que o próprio paciente”, salienta.
A especialista recomenda, portanto, que o tratamento psicológico se inicie junto ao tratamento oncológico.
“Após o diagnóstico, vêm quimioterapia, radioterapia, exames auxiliares, acompanhamento com o cirurgião e o oncologista. Para todo esse enfrentamento, um profissional da saúde mental pode ser de grande valia no sentido de acompanhar a demanda psicológica de cada paciente, trazer novas decisões, executar ações benéficas, retirar comportamentos deletérios e muito mais”, finaliza Leninha.