O primeiro contato que tive com o carnaval deve-se ao meu tio Henrique Tamm, que nos levava – eu e seus três filhos – para fazer o corso na Avenida Afonso Pena, assentados nos faróis de seu carro, um Chevrolet. Depois de dar várias voltas pela avenida, íamos terminar a tarde nos salões do Automóvel Clube. Os anos se passaram e eu cresci, mas não perdi o gosto pelas brincadeiras carnavalescas em clubes.
Depois de certa época, passamos a cobrir a folia nos clubes, para este jornal, na companhia do saudoso colega e amigo Nicolau Neto. Quando a cidade ganhou os desfiles na Afonso Pena, fui estrear minha vontade de pisar no asfalto na escola de samba Canto da Alvorada.
Pena que o fotógrafo aqui do jornal, escalado para imortalizar a façanha – sociedade não frequentava escola de samba –, perdeu aquela minha passagem. Mas eu estava devidamente ligada à festança.
Como meu marido tinha ligação com a Brahma, frequentamos o camarote da cervejaria no Rio de Janeiro. Era um peditório só de quem queria ir. Juntávamos um grupo e raramente perdíamos um desfile.
Gostava tanto que uma amiga, cuja prima desfilava na Mangueira e estava doente, me perguntou se queria assumir o lugar dela. Brincadeira – e lá fui eu desfilar no carnaval carioca, fazendo inveja aos meus amigos no camarote. Desfilei na maior animação, até chegar naquela praça onde terminam os desfiles e ficar com um problema: como voltar ao camarote?.
Tentei pela pista do desfile e logo fui barrada. Deveria voltar por fora. Acontece que o “por fora” era uma confusão sem fim, passando por ruas e mais ruas, sem a menor indicação de acesso aos camarotes.
Aprendi uma coisa: os cariocas, na rua, respeitam os fantasiados. Depois de muito errar, cheguei ao destino e fui trocar a fantasia em um dos banheiros do camarote.
Em certa época, existia a Elite, ponto de encontro para lanches, cervejas e namoro de toda a sociedade belo-horizontina. Moças solteiras, filhas de mineiros que moravam no Rio, vinham passar as tardes na Elite e as noites nos bailes do Automóvel Clube, lotando o bar e a rua. Muitos casamentos nasceram ali e separações também.
Na Avenida Afonso Pena, as moças circulavam com o rosto coberto por um lenço. Passando por lá, meu amigo Murilo Rubião cismou que eu era uma delas, segurou a moça pelo braço e a levou até a Elite. Quando chegou, a moça tirou o lenço e ele viu que não era eu. Levou a maior vaia e ficou na maior falta de graça.
Nos bailes do Autómovel Clube, as fantasias deveriam ser mais ricas e sem muita nudez. No Baile do Marinheiro, no Iate Clube, os shorts, que atualmente estão em todos os lugares, já eram mais do que comuns.
Os tempos foram levando os foliões para o Rio e para outras praias, o carnaval por aqui foi ficando desanimado.
Agora, ele volta com uma grande novidade: deixou os clubes e chegou às ruas, com blocos e mais blocos, se tornando a alegria de todos.