Toda notícia da Arezzo que recebo, parece coisa de família, sinto o maior prazer. Afinal, conheço todos desde quando, nos tempos antigos, fui à fábrica que tinham na Gameleira, onde fui recebida com a maior simpatia por Anderson, que fez o sapato que eu queria na maior presteza. Se bem me lembro, ia passar férias na Europa e precisava de um sapato de saltos mais baixos, de uma cor X, difícil de ser encontrada. Até então, só conhecia Jefferson e a mulher, Ana Maria.
A partir dessa encomenda, ficamos amigos. Eles frequentavam minha casa, não deixavam o Natal passar em branco (e levavam presentes que não eram sapatos, uma gentileza sem fim). Quando resolveram ir para São Paulo, não se esqueceram de mim, recebia convites para tudo que faziam. Naquela fase era amizade mesmo, até dona Ruth – a mãe – entrava no relacionamento. Vi os filhos crescendo e um belo dia Alexandre (que chamávamos de Xande) apareceu na redação do jornal com uma caixa de sapatos na mão, com seu sonho dentro. Queria produzir botas para não disputar a área calçadista com pai e tio.
Foi me mostrar sua criatividade em primeira mão e pedir conselhos: não pegaria mal ele entrar para o mercado, mesmo produzindo outro tipo de sapato? Foi assim que a Schutz nasceu e ele entendia bem do que se propunha a fazer. Um belo dia, os irmãos se desentenderam e ambos foram à minha casa para dar sua versão da separação. Eles se separaram comercialmente e também como irmãos. Na festa de aniversário de dona Ruth, Jefferson não apareceu.
E dentro da firma, Alexandre se transformou num talento sem fim e foi criando tudo que imaginaram. São Paulo era um ponto de apoio legal e a marca Arezzo conheceu e venceu no mundo. A mudança para São Paulo distanciou nossa amizade e fiquei sabendo, por dona Ruth, que Jefferson estava morando em Portugal. Da Arezzo propriamente dita, recebo notícias e mais notícias – até a última, do dia 3, contando que a Arezzo estava anunciando naquele dia a aquisição da marca italiana Paris Texas, uma das mais destacadas marcas de sapatos femininos da Europa.
Com a aquisição – sua primeira fora do mercado brasileiro – a Arezzo&Co acelera o processo de internacionalização e almeja criar uma plataforma global do mercado de calçados de luxo. Fundada em 2015 em Milão por Annamaria Brivio e Massimo Baltimora, a Paris Texas rapidamente se destacou pela capacidade de ditar tendências, criando produtos icônicos, numa trajetória que alia crescimento acelerado e alta rentabilidade.
Com a transação, a Arezzo&Co adquire 65% do capital da companhia. Os fundadores permanecem com 35% do negócio e se mantêm à frente das operações.“Estamos aliando nossa história de sucesso no mercado brasileiro e americano à criadores, empreendedores italianos, país com a maior tradição mundial na produção de calçados de luxo, podendo assim usar as melhores práticas de ambos os lados, com objetivo de gradualmente criar uma (Global Luxury Shoes Platform)”, diz Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co.
Uma das principais avenidas de crescimento para a Paris Texas virá com a ampliação de distribuição, principalmente no mercado americano, utilizando o ecossistema Omnichannel bem desenvolvido pela Arezzo&Co, no qual a marca Paris Texas tem grande awareness, mas baixa penetração. Além disso, a força da Paris Texas e seu relacionamento com fornecedores e fabricantes de alta qualidade no mercado europeu abre várias portas para a Arezzo&Co.
A Paris Texas terá chance de se beneficiar do know how estratégico desde o desenvolvimento de produtos, sourcing e distribuição OMNI da Arezzo&Co, que aliada a sua eficiência operacional aumentará gradualmente as já elevadas margens de rentabilidade da Paris Texas. Em grandes números, a Paris Texas teve crescimento de 65% em 2022, atingindo 15 milhões de euros de receita bruta, que equivalem a R$ 83 milhões, e margem Ebitda de 16,6%. A Arezzo&Co pagará 25 milhões (cerca de R$ 135 milhões) pelos 65% da Paris Texas, sendo que 15 milhões serão pagos aos fundadores e 10 milhões serão aportados no caixa da empresa para financiar sua expansão e rápido crescimento. O valor representa múltiplos de 1,9 vez a receita e 11 vezes o EBITDA da companhia.