Dia desses, ao comentar como anda minha saúde, decidi contar quantas vezes já fui operada aqui e no exterior. Minha irmã sempre fala que sou feita de tijolo diferente, porque basta algum médico avaliar meu estado físico e recomendar um tratamento qualquer, que corro e vou fazê-lo.
Isso ocorreu quando fui à Itália fazer a redução de meu braço, com um médico italiano. Mal conheci a pessoa com quem combinei a operação para a semana seguinte, tempo suficiente para organizar a viagem. Não se fazia o procedimento por aqui. Fui. Em vez de hospital, fiquei em um convento em funcionamento e tudo correu muito bem, como estava previsto.
Uma das operações da qual falei aqui foi a de endometriose. Depois de passar muitos dias sofrendo com a dor, entrei no carro do médico que parou na minha porta e fui para o Vera Cruz, onde ele operava. Era José Salvador, informado de meu sofrimento pela mulher, minha grande amiga Norma.
Volto ao assunto porque 13 de março, segunda-feira passada, foi Dia Nacional de Luta contra a Endometriose, e estamos na Semana Nacional de Educação Preventiva e de Enfrentamento à doença. A campanha é apoiada pelo Março Amarelo, que visa à conscientização da população.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que 180 milhões de mulheres enfrentam a endometriose. No Brasil, são 7 milhões – uma a cada 10 em idade reprodutiva. É fundamental educar e conscientizar a população feminina e a sociedade em geral, pois há desconhecimento sobre origem, sintomas, diagnósticos e tratamentos indicados.
Dono da carreira de 20 anos dedicados à ginecologia, Alessandro Scapinelli destaca a importância de desmitificar esta doença inflamatória, que se manifesta nas mulheres de diferentes formas. “Dores abdominais profundas e durante as relações sexuais, perda de energia, cólicas intensas durante o período menstrual e coloração da menstruação mais escura (em tom violeta) e intermitente estão entre os sinais”, informa o especialista.
Queixas relativas ao ciclo menstrual podem ser endometriose e merecem investigação. O padrão de vida e a tendência de as mulheres optarem pela gravidez mais tardia contribuem para o prejuízo na fertilidade, principalmente em pacientes com endometriose.
“O diagnóstico deve ser feito com máxima cautela. Os exames comumente realizados em busca de detectá-la podem, eventualmente, deixar de revelar se há endometriose, principalmente nas mulheres com a forma superficial da doença", afirma o especialista. "Nesse cenário, a clínica apresentada pela paciente sempre será soberana e deve ser valorizada. Em usuárias de métodos hormonais contraceptivos, a doença pode 'crescer no escuro' e, por esse motivo, muitas mulheres não conseguem engravidar quando interrompem o método.”
A endometriose surge quando o tecido endometrial que reveste o útero internamente descama, todos os meses, com a menstruação. Ele migra e adere a ovários, tubas, intestinos, bexiga e peritônio, entre outros órgãos, causando dor intensa, principalmente durante as relações sexuais.
Recentemente, novas descobertas têm sido feitas sobre a doença, auxiliando o tratamento medicamentoso ou cirúrgico. “O diagnóstico pode ser suspeitado na primeira consulta, por meio do relato das pacientes e da avaliação clínica minuciosa. Ele será confirmado por meio de exames de imagem como ultrassonografia e ressonância magnética, além dos exames laboratoriais complementares”, diz o ginecologista Arnaldo Cambiaghi, especialista em reprodução humana.
“Quanto mais precoce o diagnóstico, menor a chance de comprometimento da fertilidade e do prejuízo da qualidade de vida”, ressalta o médico. Portanto, é fundamental que as mulheres estejam atentas aos sintomas e busquem ajuda de um especialista para diagnóstico e tratamento adequados.