Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Solar Teixeira da Costa, em Santa Luzia, passa por importante restauração

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


Há um ano e meio a empresa Restaurare trabalha na restauração do Solar Teixeira da Costa, em Santa Luzia. Erguido por volta de 1745, o prédio está no Centro Histórico, em frente ao Santuário de Santa Luzia. 





Escolhida pelo vigário Manoel Pires de Miranda para moradia, a construção fica na junção das ruas Direita e Serro, sinalizando para os tropeiros do século 18 os caminhos para chegar ao Recolhimento de Macaúbas, Serro, Andrequicé, Taquaraçu, Distrito Diamantino e ao sertão.

Quem visita aqueles 18 cômodos percebe logo a razão de sua resistência ao tempo. A estrutura é formada por peças de madeira com mais de 10 metros, pedras, paredes de madeira e adobe feito a mão, de barro e uma ou outra pedra. Na parte baixa, ficavam os abrigos para escravos, separados da moradia pelo assoalho de madeira, que recobre todo o piso da edificação.

A empresa que cuida da restauração, financiada pela prefeitura, esmera-se na busca das técnicas usadas naquela época. A fase atual dos trabalhos começou pelo telhado, de quatro águas. A remoção do acabamento da cobertura das paredes deixa visível a perfeita estrutura, feita só com adobe, cujos tijolos têm cerca de 20cm de largura. Isso explica a razão da durabilidade do imóvel, que não apresenta abalo ou fendas nas paredes. Os poucos encontrados são raridades, fruto da deterioração da madeira de apoio dos adobes – madeira, aliás, substituída com o maior cuidado. O cuidado na retirada do acabamento externo das paredes explica a demora da restauração.




 
Reprodução (foto: Detalhes da pintura do teto são restaurados cuidadosamente)
 

A construção colonial é bem característica do século 18, o que a torna uma das mais importantes de Minas Gerais. Os cômodos são dispostos em três alas, com pé direito de cerca de 3,8m. A área lateral foi destinada aos quartos e a serviços. No centro está a grande sala de jantar, que tem uma pequena capela, a cozinha e serviços construídos posteriormente.

Todas as peças têm pé direito alto com a mesma proporção. No telhado de quatro águas, a reposição das peças antigas é feita com o maior cuidado, principalmente na escolha da madeira nobre utilizada, de preferência a mesma da construção.

Outro cuidado minucioso: as telhas originais ainda usáveis foram lavadas, uma a uma, e completadas pelas novas, que têm o mesmo formato, peso e curvatura. A qualidade do forro antigo garantiu a preservação no interior do prédio. Há seis forros de gamela com pintura decorativa, característica do estilo Rococó mineiro com rocalhas, rosáceas e douramentos, mais quatro forros de esteira e cimalhas marmorizadas.





O prédio dá para o pátio central, em forma de “U”, interligado ao quintal e com acesso ao porão por meio da escada interna. A estreita varanda tem junto à cimalha do telhado um gracioso lambrequim em madeira pintada de azul e recortada, já totalmente instalado.

Como no prédio vai funcionar a Casa de Cultura e o Museu Histórico Aurélio Dolabella, a curiosidade sobre as técnicas construtivas será satisfeita por meio de “janelas” abertas em alguns ambientes, recobertas por placas de vidro, deixando visíveis as paredes erguidas com adobe e pau a pique, técnica delicada que está presente, principalmente, na área da cozinha.

Outra curiosidade a respeito desse tipo de construção: ela também serve para abrigar os barbeiros que provocam a doença de Chagas

Em meados do século 19, o solar foi adquirido pelos barões de Santa Luzia, passando a funcionar como Casa de São João de Deus, um dos fundos de financiamento do Hospital de São João de Deus, aberto em 1840. Em 1893, foi adquirido por Manoel Teixeira da Costa, por escritura de compra e venda, do casal José Leonardo de Carvalho e Theodózia Maria de Carvalho Wanderley e irmãos, herdeiros da baronesa de Santa Luzia.





Durante vários anos o solar foi usado pela família, tornando-se ponto de encontro principalmente nas datas festivas. Quando ficou vazio, foi desapropriado pelo município em 27 de maio de 1993 e cedido por comodato para a Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia, passando a abrigar a Casa de Cultura e o Museu Histórico Aurélio Dolabela.

O solar foi tombado pelo Iphan em 1950 e pelo Iepha/MG em 1998, no contexto de tombamento estadual do Centro Histórico de Santa Luzia. Recebeu proteção na instância municipal em 1989 e, posteriormente, pela Lei Orgânica Municipal. O imóvel passou por intervenções em algumas ocasiões – as mais significativas foram as reformas realizadas entre 1938/1946 e a restauração em 1977.

A atual restauração do Solar Teixeira da Costa é importante para a cidade e para a memória histórica de Minas. Participa dos trabalhos a arquiteta Maria Cristina de Souza, que prevê que os trabalhos devem demorar cerca de seis meses. As obras são acompanhadas pelo Iphan e pelo Iepha, por meio do engenheiro João Pires de Misericórdia.