Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Especialista diz que estão nascendo mais autistas. Ninguém sabe por quê

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Em tempos antigos, criança era levada ao médico quando era gaga, trocava as letras e por aí vai. O neuropediatra Rafael Engel, especialista em neurociências, afirma que por volta de 2 anos espera-se que ela já esteja falando muitas palavras e tendo conversas funcionais. Ou seja, não apenas repetindo palavras ou repetindo frases de desenhos, mas usando a fala para diálogos, pedidos, perguntas e para expressar suas necessidades.





Ao comentar o transtorno do espectro autista (TEA), Engel destaca sinais de alerta: crianças que por volta de 2 anos ainda não falam, apenas repetem palavras sem funcionalidade ou têm fala muito avançada, com vocabulário muito rico, destoando até do ambiente onde vivem.

“Outros sinais de alerta são comportamentos estereotipados como sacudir as mãos (flapping), andar nas pontas dos pés, balançar o corpo como pêndulo, tapar os ouvidos com frequência, pular ou correr em momentos inadequados. É importante lembrar que a criança não precisa apresentar todos esses comportamentos ao mesmo tempo. Esses são exemplos possíveis dentro de um espectro tão vasto”, diz ele.

O doutor Rafael esclarece sobre o tipo de especialista que os pais devem procurar: “É importante que o diagnóstico seja feito por um neuropediatra ou por um psiquiatra infantil, se a suspeita for ainda na infância. Vale ressaltar que o ideal é buscar um neuropediatra e não um neurologista de adulto.”





Diagnóstico feito, muitas são as possibilidades de terapia que trazem benefícios. “Em geral, buscamos pela tríade psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Mas costumamos indicar também hidroterapia, equoterapia, musicoterapia, psicomotricidade e tantas outras quanto puderem ajudar”, diz. A seguir, Engel esclarece algumas dúvidas sobre o TEA:

Como é feito o diagnóstico?
O TEA não será confirmado através de exames, mas de muita conversa, observação e coleta da história do indivíduo desde a gestação. Os exames podem ser pedidos para afastar a suspeita de outros diagnósticos, mas não para “encontrar” o autismo. Muitas vezes, o olhar de profissionais das áreas terapêuticas e educacionais podem ajudar a perceber comportamentos que serão relatados ao médico. Mas é muito importante frisar que apenas o médico pode fechar o diagnóstico e fazer o laudo.

Qual é a melhor idade para levar a criança ao especialista?
Tão logo se percebam os sinais de alerta. Em alguns casos, neuropediatras experientes conseguem diagnosticar o autismo antes dos 2 anos, o que é fundamental para que a criança receba os estímulos adequados aproveitando a neuroplasticidade. Quanto antes iniciarmos as terapias, melhor tende a ser a evolução da criança.

A que se devem números alarmantes de pessoas com diagnóstico de TEA?
Não sabemos. Apesar de as mudanças conceituais, a melhor percepção do diagnóstico e a melhor oferta de serviços médicos serem fatores que sempre levam ao aumento do número de casos, seja qual for o diagnóstico, no autismo isso não explica por que a prevalência continua aumentando, como vimos na publicação, de março de 2023, da rede de monitoramento do autismo americana (ADDM), referente ao ano de 2020. Ela indicou, como média geral do país, a presença de pelo menos uma criança com diagnóstico de autismo em cada 36, na faixa de 8 anos. Em 2018, era uma em cada 44 crianças. Ou seja, realmente estão nascendo mais autistas. O porquê ninguém sabe.





O TEA é agressivo?
Mito. Quando falamos de espectro, estamos pensando em inúmeras possibilidades e combinações de características. Não existe um único tipo de autista. Alguns podem apresentar comportamento mais agressivo por diversos fatores, como alguma sobrecarga sensorial ou pela dificuldade de expressar algo quando se apresenta de forma não verbal.

O paciente de TEA é mais inteligente?
Não podemos generalizar. É fundamental entendermos que o TEA nunca deve ser confundido com deficiência intelectual. Alguns autistas podem ter deficiência intelectual? Podem. Assim como podem ser altos, baixos, brancos, negros... Por mais comprometimento que se possa notar no comportamento e no processamento sensorial, não podemos relacionar esses fatores ao intelectual. E sim, existem autistas com capacidades extraordinárias, muitas vezes atreladas a seus hiperfocos ou, por exemplo, à possibilidade de memória fotográfica.

A criança com TEA não sorri?
Mito. É comum encontrarmos autistas que não se sentem à vontade em fazer contato visual com pessoas com quem não têm intimidade. Sorrir não tem qualquer ligação com o TEA. Autistas sorriem sim, quando acham graça e para quem quer sorrir.

TEA é mais comum em meninos?
Verdade. Segundo os dados estatísticos apresentados até o momento, a incidência ainda é maior em meninos.

TEA é causado por vacina?
Esse é um dos grandes mitos sobre o TEA. Estudos científicos já comprovaram que não há relação entre a aplicação de vacinas e o desenvolvimento do transtorno.