Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

Junho é o mês da conscientização sobre a infertilidade



No dia 25 de julho de 1978, o mundo acordava com uma revolução científica: nascia, no Reino Unido, a menina Louise Brown, o primeiro bebê de proveta. A criança era a concretização de anos de pesquisa do ginecologista Patrick Steptoe e do fisiologista Robert Edwards, abrindo caminho para uma série de transformações na reprodução humana.





Louise foi a primeira de mais de 10 milhões de crianças concebidas por meio de técnicas de reprodução assistida, que vêm evoluindo expressivamente com o passar das décadas e com o avanço das tecnologias.

Junho é o mês de conscientização sobre a infertilidade. Mas o que é essa condição exatamente?

“Ela é definida como tentativas frustradas de gravidez após 12 meses ou mais, com relações sexuais regulares sem proteção”, explica a ginecologista Mariangela Badalotti, diretora do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 15% dos casais enfrentam dificuldades para engravidar.

Por muito tempo, o problema era atribuído à mulher, enquanto o homem nem sequer era investigado. No entanto, ele atinge igualmente homens e mulheres, que respondem por 35% das causas mais comuns, enquanto 20% decorrem de fatores associados e os demais 10% não têm causa determinada.





Nesses 45 anos, as taxas de fecundidade vêm caindo gradativamente em todo o mundo. Em 1978, o índice era de 3,78 nascimentos por mulher. Hoje, está em 2,30. Fatores sociais e econômicos levam muita gente a adiar a decisão de engravidar, geralmente para depois dos 30 anos. É quando entra em cena um elemento determinante para a infertilidade: a idade.

Com o passar dos anos, a qualidade de óvulos e espermatozoides vai caindo. Para as mulheres, a fertilidade começa a diminuir a partir dos 35 anos, acentuando-se depois dos 40. Já entre os homens, a capacidade de os espermatozoides se moverem cai cerca de 7% por ano após os 40. Esse quadro, somado a outros fatores como obesidade, fumo e infecções sexualmente transmissíveis, pode prejudicar a chance de ter filhos.

“Com tudo isso, quando o casal tenta engravidar, podem vir as dificuldades para concretizar a gestação naturalmente. Por isso, é muito importante, além dos cuidados com a saúde, ter um planejamento de longo prazo, do congelamento de óvulos e sêmen até os embriões”, ressalta Mariangela Badalotti.





O congelamento garante a melhor qualidade dos óvulos e espermatozoides, bem como aumenta as chances de gravidez. O processo é indicado até os 35 anos de idade, sendo recomendado também para pacientes em tratamento de câncer, pois quimioterapia e radioterapia podem prejudicar a fertilidade.

Há diversas técnicas que têm ajudado a realizar o sonho de ter um filho. As mais conhecidas são a fertilização in vitro e a inseminação artificial. No caso da primeira, a fertilização ocorre em laboratório e, após o acompanhamento das primeiras fases das divisões do embrião, este é transferido para o útero, onde deverá se implantar e dar início à gestação.

Na inseminação artificial, espermatozoides preparados em laboratório são depositados diretamente no útero – tratamento indicado há dificuldade para o gameta “subir” pelo colo uterino.





As taxas de sucesso desses procedimentos podem chegar a mais de 50%, afirma Alvaro Petracco, diretor do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva, criado há 35 anos em Porto Alegre. No entanto, cada caso exige investigação ampla do estilo de vida e histórico de saúde do casal.

“O acompanhamento aborda aspectos conjugais, emocionais, sexuais, comportamentais, de saúde geral, doenças anteriores e histórico familiar, podendo exigir também exames complementares”, explica Petracco.

Os especialistas listam fatores que podem ajudar a prevenir a infertilidade: manter alimentação balanceada, rica em fibras e nutrientes e com baixo índice inflamatório; praticar exercícios físicos regularmente, evitando a obesidade; prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, principalmente com o uso de preservativos; evitar o uso do fumo e drogas recreativas; atenção a doenças sistêmicas como diabetes, hipertensão, problemas na tireoide e enfermidades imunológicas, entre outras.

Alguns medicamentos também podem interferir na fertilidade. Recomenda-se cuidado com o consumo excessivo de cafeína e álcool. A rotina livre de estresse, com sono regular, também é importante, de acordo com os especialistas.