Jornal Estado de Minas

ANNA MARINA

A importância do diagnóstico precoce de perda auditiva

 

O que me consola é que não sou a única – conheço várias pessoas relativamente surdas, que deixam de lado o aparelho cuidadosamente escolhido para corrigir o problema. Levei um bom tempo para resolver que tipo de aparelho usar. Optei por um modelo que faz a peça do tamanho e do desenho de cada ouvido, que é usado internamente, tem pilha e realmente acaba com a deficiência auditiva. 



Mas tenho uma preguiça imensa de colocá-lo, acertar o lado da peça, como colocar as pilhas de forma correta para passar a escutar. É uma burrice só, mas aceito sem muito problema. O caso é que a perda auditiva, a partir da quinta ou sexta década de vida, faz parte do processo natural do envelhecimento humano. Ou seja, é algo mais do que previsto e comum - assim como as alterações da visão, a perda de cabelo, a perda de massa muscular, dentre outras tantas perdas também associadas ao envelhecimento.
No caso da audição, porém, é algo que penaliza  sobremaneira os pacientes quando têm essa condição agravada. Afinal, a surdez provoca uma situação de isolamento social, justamente pela perda da capacidade de comunicação que lhe é imposta. Trabalhos recentes vêm associando a deficiência auditiva em idosos à evolução de quadros demenciais. Nesses casos, a reabilitação auditiva, que pode ser realizada com aparelhos de amplificação sonora individual, segundo o tipo de perda auditiva, pode evitar essa progressão e, em alguns casos, até melhorar a cognição.

Quando se trata de idosos em especial, dificuldade auditiva com comprometimento da comunicação interpessoal é, sem dúvida, um fator de risco a quem preza por uma boa qualidade de vida. Por isso é tão importante o acompanhamento médico regular. Esse, aliás, é  um dos propósitos da campanha Junho Violeta, que tem entre seus objetivos promover ações que assegurem dignidade às pessoas que estão na etapa final da vida. 



"Cuidar da audição é cuidar das memórias e das relações das pessoas idosas, que são tão importantes para mantê-las com o propósito de viver e para garantir sua autonomia e independência. As pessoas que convivem com idosos precisam ter isso muito claro e sempre estar atentas", destaca Gilberto Ferlin, médico otorrinolaringologista e foniatra do Hospital Paulista - referência em especialidades de ouvido, nariz e garganta.

Os indicativos de surdez, segundo ele, costumam partir de situações cotidianas, como aumentar demasiadamente o volume da TV, solicitar que repitam as frases recorrentemente, não responder a chamados, apresentar dificuldades para manter conversação em ambientes com ruído competitivo, como à mesa em restaurante com alguns familiares. "Também é bastante comum a dificuldade em falar/entender ao telefone; falta de uma boa compreensão das palavras que ouve; dificuldade em conseguir manter conversas simples; elevação do som da própria voz", acrescenta.

Para um diagnóstico correto, Ferlin explica que o exame de audiometria é o mais recomendável, pois identifica o tipo e grau da perda auditiva. "Ele é fundamental para detectar perdas auditivas ainda em seu estágio inicial, para que seja feita uma intervenção precoce, a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas que já apresentam algum grau de deficiência. O exame ajuda a identificar se o paciente precisará utilizar um aparelho auditivo e qual a melhor indicação (tecnologia e modelo), de acordo com as suas necessidades", destaca.



O meio mais indicado para iniciar a reabilitação tão logo ocorram alterações sensoriais auditivas é avaliá-las periodicamente, a partir dos 60 anos. O ideal é que o idoso não espere sentir desconforto auditivo para fazer o exame, principalmente se houver histórico de surdez na família. Da mesma forma, os parentes e cuidadores devem ficar atentos para que essa condição não comprometa a qualidade de vida", afirma o médico.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, no Brasil, há 28 milhões de pessoas com surdez, representando 14% da população, com incidência maior em idosos. Em média, segundo a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia, as pessoas demoram cerca de sete anos para procurar um especialista após perceberem algum dano à audição e ainda levam mais dois anos para escolher um tratamento. 

Componentes genéticos e fatores de risco específicos, como diabetes, pressão alta, tabagismo e uso excessivo de álcool podem acelerar o processo de perda auditiva. As causas mais recorrentes, por sua vez, são: a exposição ao ruído ao longo da vida; atuação em alguns tipos de ambiente de trabalho e a não utilização de protetor auditivo.